segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Caligrafia Japonesa na Gulbenkian

Mesmo a terminar está a exposição "Caligrafia Japonesa - Obras-primas da caligrafia japonesa contemporânea reunidas em Portugal" na Fundação Gulbenkian.
A caligrafia, composta quer pelos kanji (os caracteres chineses) quer pelos alfabetos hiragana e katakana, é uma das vertentes da cultura japonesa mais amada e apreciada pelos ocidentais. Pelos japoneses é elevada à categoria de arte, sendo o manejar dos pincéis uma virtude que historicamente era extremamente valorada pela sociedade requintada. 
Esse bom gosto pode ser comprovado nesta exposição quer pelo traço virtuoso disposto em painéis igualmente lindíssimos, quer - complemento não dispiciendo mas antes soberbo - pelos nacos de poesia (tankas? haikus?) que nos oferecem. 
Já se sabia que os japoneses se deixam encantar pela natureza em geral e sobretudo pelas belezas que cada uma das estações do ano traz, cores e flores que lhes despertam emoções singelas logo transformadas em poucas linhas de puro deleite. Mas nunca é demais registar alguns exemplos:


Não há nada a dizer para as montanhas da minha cidade natal. Apenas agradeço pela sua existência, pois elas aquecem o meu coração. (Takuboku Ishikawa)


Divertir-se livremente como a nuvem, afastando-se das coisas fastidiosas do mundo. (Xunhe Du)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Imagens do Mundo Flutuante em Lisboa


Acerca do ukiyo-e, a arte japonesa das pinturas do mundo flutuante, já se tem falado aqui neste blogue. O que é novidade agora é a possibilidade de se ver alguns desses exemplos na cidade de Lisboa. Até Maio de 2015, na Casa Museu Anastácio Gonçalves está sob mostra a exposição temporária "Imagens de Um Mundo Flutuante, Estampas, livros e álbuns da colecção Paul Ugo Thiran". 
Esta exposição dá-nos a oportunidade de apreciar umas quantas dezenas de pinturas dos séculos XVII a XX. Todas elas deliciosas, como esta arte já nos habituou. Vemos os actores do kabuki transvestidos em damas, os samurai, enfim, cenas do quotidiano a que não faltam sequer umas delas inspiradas na obra literária Genji Monogatari. E vemos ainda cenas de batalhas, de corte e, sobretudo, de paisagens onde não deixam de estar presentes as árvores - não esquecer a importância das cerejeiras em flor na cultura japonesa -, os rios e as montanhas - o Fuji, sempre.
Paul Ugo Thiran era um belga que viveu em Portugal e começou a coleccionar estas pinturas, talvez por acaso, ao comprar uma que o seduziu num mercado em África. Desde aí não mais parou. Hoje, esta exposição que a sua colecção proporcionou está lado a lado com as porcelanas chinesas que outro coleccionador - Anastácio Gonçalves - juntou ao longo da sua vida. Um cheirinho a Oriente em Lisboa imperdível.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Twilight in the Forbidden City, de Reginald F. Johnston


Twilight in the Forbidden City é um livro de Reginald F. Johnston, um académico e diplomata britânico, mais conhecido por ter sido o tutor do último imperador da China, retrato que nos foi dado por Bernardo Bertolucci no seu filme "O Último Imperador".
Publicado em 1934, Twilight in the Forbidden City é uma espécie de memórias dos anos - e foram 32 - que Johnston passou na China (entre 1898 e 1930). 
Durante 1919 e 1924, enquanto tutor de Puyi, teve acesso especial à corte imperial Qing, como nenhum outro estrangeiro antes tivera. Nessa medida, dá-nos uma visão única e privilegiada não só da corte e da Cidade Proibida, mas também dos acontecimentos históricos dessa época. 
E foram muitos e determinantes. 
Desde logo as reformas de 1898, que terão oposto Kang Youwei a Cixi. 
Após a morte desta, a revolução de 1911 que levou à implantação da república na China e consequente queda do regime imperial que durava há uns quantos milénios.
Depois, a tentativa de restauração em 1917 e o período dos senhores da guerra.
Seguiram-se os movimentos pós Tratado de Versalhes, na sequência do fim da I Grande Guerra Mundial, como o Movimento 4 de Maio, bem como a ascensão dos nacionalistas e a unificação do país.
E, por fim, as movimentações japonesas que levaram à criação do estado fantoche de Manchukuo, pelo qual Puyi se deixou seduzir.
Muita matéria, portanto.
Como observador privilegiado, o autor descreve os rituais na Cidade Proibida, bem como a sociedade chinesa da época, incluindo movimentações políticas.
A sua opinião acerca de Cixi, a Imperatriz Viúva, ao contrário da de Jung Chang que vimos em post anterior, era francamente negativa. 
Conhecedor da realidade e cultura chinesa, é muito interessante ler o elogio que faz à educação, em especial na relação ente professor / aluno: à volta de Puyi, apesar de este já não reinar, mantinha-se toda a solenidade perante a sua figura, mas este mostrava uma enorme reverência para com o seu tutor. Este, por seu lado, admirava-o e manteve até ao fim dos seus dias uma grande amizade e certeza nas qualidade do seu pupilo, o que o fazia ter esperança de que o futuro do Último Imperador pudesse ser brilhante. Não foi.