Em 1 de Outubro de 1949, vencida a guerra civil disputada entre nacionalistas e comunistas, é fundada a República Popular da China (R.P.C.).
O Partido Comunista Chinês passa a governar mas encontram-se algumas linhas de continuidade entre o novo governo e o anterior sob a direcção do Kuomitang. Desde logo o autoritarismo - os dois partidos não eram tão diferentes assim, nomeadamente na organização, bastando lembrar que o PCC havia sido criado a partir do KMT. E o nacionalismo - ambos entendiam que se deveria atender a aspectos da cultura tradicional e não seguir cegamente o que vinha de fora.
As ideias de alguma moderação a que se vinha assistindo antes de 1949, nomeadamente no período de Yan'an e na campanha de rectificação zhengfeng, perduraram nos primeiros anos da R.P.C., muito devido à necessidade de não antagonizar determinados sectores da sociedade que eram considerados importantes. Mao estava interessado em implementar o seu projecto de Nova Democracia com a ditadura das 4 classes: operária, camponesa, pequena burguesia urbana e burguesia nacional, no fundo, o povo liderado pela classe operária e pelo PCC.
A mobilização comunista era intensa, funcionado através do lançamento de inúmeras campanhas de massas, as quais serviam para introduzir novas políticas, mudar atitudes, rectificar más práticas e purgar inimigos de classe. Algumas destas campanhas foram a "resistência à América e apoio à Coreia", "supressão da contra-revolução", com apelos à denúncia por parte de familiares e amigos de indivíduos que pudessem agir contra os comunistas, e as campanhas "anti-corrupção", "anti-desperdício" e "anti-burocratismo", onde se promovia a denúncia de actividades consideradas perversas.
Em termos económicos, em 1950 foi adoptada uma lei da reforma agrária que trazia a abolição do sistema da propriedade da terra de exploração feudal, ou seja, o confisco da terra aos terratenentes e camponeses ricos que não a cultivavam (teoricamente não haveria confisco aos ricos que trabalhavam a terra). As reacções foram negativas, com violência e denúncias. Em 1953 deu-se início à segunda fase da reforma agrária com o caminho da colectivização. Foram formadas equipas de entre-ajuda, grupos de famílias, sendo reunido trabalho, alfaias e animais. Para além da entre-ajuda foram criadas cooperativas de produção agrícola com disponibilização da terra e instrumentos. A propriedade privada não era abolida, era é para todos, e os rendimentos eram distribuídos de forma diferente, quer com base na terra quer no trabalho.
Para 1953 - 1957 foi estabelecido o Primeiro Plano Quinquenal. A ideia era de que até 1957 se iria conseguir realizar todo o esforço relativo às cooperativas agrícolas e à produção industrial, com a duplicação da produção industrial e a incorporação da indústria e do comércio em termos nacionais. Passa a falar-se de propriedade da terra colectiva. As cooperativas desenvolviam-se muito rapidamente, com aumento da produção agrícola, mas também artesanato, indústria e comércio, levando a que se falasse de "maré-alta" (ou "pequeno salto em frente"). A verdade, porém, é que não havia possibilidade de aumento da produção industrial, uma vez que o estado continuava deficitário e com dificuldade de se financiar, com falta de investimento e de matérias primas. Em alguns domínios havia excesso de produção, logo desperdício, e noutros escassez. Fome. Falou-se de uma maré alta ambiciosa e de período de implementação demasiado curto, um "avanço precipitado", nas palavras de Zhou Enlai. Mao acaba por recuar face a esta política.
Em 1956 é lançado o Movimento das Cem Flores e no ano seguinte o movimento anti-direita.
Também em 1957 é lançado o projecto que ficou conhecido como "O Grande Salto em Frente". O objectivo era o de ultrapassar a Grã-Bretanha em 15 anos. São lançadas campanhas de mobilização de massas, como projectos de conservação de água e eliminação das 4 pestes (moscas, mosquitos, ratos e pardais) - um futuro socialista utópico, uma sociedade onde a limpeza e higiene fossem a norma - e mobilização para a produção de aço a nível nacional. Não existindo a capacidade para a produção desse aço, vai-se construir fornos caseiros nas aldeias e as suas populações são encorajadas em converter todo o metal em aço. Aproveitando todo o material que iam encontrando em objectos vários, incluindo aqueles de uso diário, acabavam por inutilizar esses objectos. Mais, esse aço acabava por ser de muito má qualidade. Mesmo com o extermínio das pestes, logo se constatou que afinal estas não têm apenas um papel negativo, pelo contrário, contribuem para o equilíbrio do eco-sistema.
Havia um entusiasmo produtivo e a ideia era a de que apenas com o entusiasmo, com a vontade, iria conseguir-se aumentar a produção de mais cereais. Utilizaram-se algumas experiências genéticas para criação de novos produtos, mas havia aqui uma fraca base científica.
Até 1956/57 verificou-se a tentativa de implementação de políticas económicas modestas e realistas. Com o Grande Salto em Frente deu-se uma mudança e este programa de desenvolvimento económico e transformação social revelou-se utópico na substância e caótico na sua implementação. Frank Dikotter é o autor do livro "A Grande Fome de Mao", dedicando-se à análise do período entre 1958-62. Esta é uma obra essencial para se compreender este período da história chinesa, inacreditável nas suas consequências (cerca de 45 milhões de mortes) e delirante nos seus diversos passos (competição por alimentos, técnicas de sobrevivência, migrações, agressões).
Outra ideia da mesma época, as comunas populares revelavam igualmente idealismo e objectivos muito ambiciosos que partiam do pressuposto de que se vivia numa altura de abundância. A realidade não era, todavia, essa, mas quem a colocasse em causa seria acusado de direitismo e reaccionarismo, pelo que o caminho mais óbvio foi o da distorção e falsificação da informação relativamente ao cumprimento dos objectivos definidos, os quais não poderiam também ser colocados em causa.
Esta foi a época, ainda, do envio de quadros para os campos, com o fundamento ideológico de colocar os intelectuais em contacto com as zonas rurais, mas também o de suprir a falta de mão de obra aí e de descongestionar as cidades do seu excesso populacional.
O Grande Salto em Frente e as Comunas Populares foram objecto de crítica dentro do partido. Mao afasta-se um pouco, mas o seu culto não cessa. Volta, dedicando a sua atenção a casos específicos de esforço agrícola, como o caso da aldeia de Dazhai, o modelo a ser seguido, declara guerra contra a natureza com a sua "grande luta contra os vales e rios tortos" (a natureza é que estava errada e, por isso, uma vez mais como consequência eis a alteração do seu equilíbrio ecológico...), decreta o modelo de camponês, ao lado do modelo de soldado e do homem de ferro modelo de todas as unidades industriais e fabris.
Falta algo? E então a crítica à ideologia burguesa reaccionária? Havia que denunciá-la e eis que chega a Grande Revolução Cultural Proletária em 1966, a qual duraria 10 anos. Promovida por Mao e outros elementos da ala esquerda radical do PCC, da qual Zhou Enlai não fez parte, pretendia acabar com os problemas de correcção ideológica dentro do partido. Em consequência, elementos do povo insurgiram-se contra elementos do partido, levando a purgas, e todos foram incentivados a criticar todos.
O movimento assentava em 16 princípios e apontava a mira a 4 velharias: velhas ideias, velha cultura, velhos costumes e velhos hábitos, na medida em que estas faziam parte do acervo cultural dos burgueses. Seria o próprio PCC a liderar o processo da Revolução Cultural, mas acabou por existir um descontrolo e acabaram por aparecer grupos autónomos, os guardas vermelhos, dispostos a defender as ideias de Mao, muitas vezes até contra o partido. Estes guardas vermelhos eram na sua maioria estudantes, filhos de quadros do PCC que muitas das vezes denunciaram até os seus pais. A situação acabou por se tornar caótica, com rivalidades entre os guardas vermelhos, levando à intervenção do Exército de Libertação Popular.
Entre 1973 e 1976 surgia a campanha que ficou conhecida como "Segunda Revolução Cultural", com a mira sobre Lin Biao e Confúcio, ou seja, sobre o exército e a tradição. A confusão mental instalou-se na população, com a crítica a elementos que haviam estado no centro do poder, causando um enorme desgaste e uma dúvida sobre quem e o que se deveria defender.
A década 1966-76 acabou por ser uma década perdida. As instituições praticamente não funcionaram, incluindo as escolas, e o investimento foi praticamente nulo.
Em 1976 a situação muda. Primeiro morre Zhou Enlai, figura querida a nível nacional, e, depois, Mao.
Na República Popular da China pós Mao, Hua Guofeng começou por assumir o poder. Era uma figura com pouco carisma interno, desconhecida a nível nacional, mas sobre quem Mao depositava confiança. Temeu-se que o Bando dos Quatro (que incluía Jiang Qing, a mulher de Mao) pudesse tomar o poder, mas tal não aconteceu, tendo, ao invés, os seus membros sido perseguidos e presos.
Deng Xiaoping, que havia sido purgado durante a Revolução Cultural, acabou por merecer o apoio de indivíduos de diversos quadrantes e torna-se primeiro-ministro. Assumindo uma posição muito pragmática, declara que o que é necessário é procurar a verdade a partir dos factos, acabando com a política baseada em objectivos sem ter uma base prática.
No "julgamento" das políticas de Mao considerou-se que a Revolução Cultural havia sido um desvio ao seu pensamento e que Lin Biao e o Bando dos Quatro haviam sido usurpadores do poder. Que a responsabilidade de Mao tinha de ser vista à luz de um indivíduo que tinha sido um verdadeiro revolucionário, mas que por uma questão de ímpeto tinha vindo a contradizer o seu verdadeiro pensamento. Assim se salvaguardava a continuidade sem se colocar em causa todo o sistema, ainda que se seguisse uma orientação diferente.
Em 1975 Deng Xiaoping dedicou-se a promover As Quatro Modernizações. A ideia não era nova, havia sido já defendida por Zhou Enlai nos anos 60, e consistia na implementação de uma rápida modernização em vários sectores como a agricultura, a indústria, a defesa nacional e a ciência e tecnologia. Havia a noção de que a China se tinha atrasado em relação aos outros países, dai a relevância dada à nova tecnologia e aos novos conhecimentos científicos, bem como à política de porta aberta. A "política de abertura" é, aliás, o chavão que descreve o período de Deng Xiaoping. Bem como a designação "socialismo de características chinesas", um estado socialista com uma economia capitalista.
Consegui chegar ao fim sem utilizar a palavra delírio? Vida longa ao camarada Mao.