segunda-feira, 1 de junho de 2015

Da Guerra Sino-Japonesa até à República Popular da China (1937-1949)


A Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) deve ser vista no quadro de relações tensas que se estabeleceram entre a China e o Japão após 1931.
O Japão invade a China em 1937 invocando o direito de legítima defesa preventiva tendo em conta o sentimento anti-japonês promovido pelas autoridades chinesas que haviam adoptado como política nacional a antagonização do Japão. Pretendiam estes a criação de uma Nova Ordem na Ásia Oriental. O Japão desejava uma política de cooperação, um estado independente dominado pelos interesses japoneses, mas com autoridades locais. A China não responde e o Japão continua a avançar até Nanquim, passando a ter como objectivo o derrube do governo nacionalista na China.
Nanquim, na altura capital, é ocupada em Dezembro de 1937 e aí iria ser perpetrado o bárbaro acontecimento conhecido como Massacre de Nanquim (ou violação). Estima-se que tenham morrido cerca de 200 000 pessoas num período de tempo muito curto. A ocupação durou seis semanas, mas os mortos aconteceram esmagadoramente na primeira semana.

Em 1938 a China estava dividida e os japoneses controlavam sobretudo as zonas urbanas, enquanto que muitas zonas rurais eram já controladas pelos comunistas. Face a esta China ocupada, não restava à população outras alternativas que não a fuga (para a concessão francesa em Xangai ou para Hong Kong ou Macau), a resistência (guerrilha comunista no interior) ou a passividade ou colaboração.
Chiang Kai-shek optava pela posição de não resistir nem negociar. Entendia que primeiro havia que eliminar os problemas internos - os comunistas. No entanto, Chiang Kai-shek tinha também a oposição interna de Wang Jingwei, da ala esquerda do seu próprio partido.
Havia falta de produtos, sobretudo manufaturados, a produção local era reduzida e o bloqueio económico japonês prejudicava e muito o país. O Estado possuía muitas despesas e os rendimentos eram curtos. A opção pela emissão de papel moeda trouxe como consequência o grave revés da inflação, para além da especulação e corrupção que se seguiram. O sentimento entre a população era de injustiça e desigualdade. 


A Longa Marcha dos comunistas havia chegado a Yan'an em 1935 e na próxima década os seguidores de Mao desenvolveriam aqui as suas experiências e exerceriam algum controlo a norte da China.
Os comunistas já tinham tido a oportunidade de implementar as suas políticas com a criação do Soviete de Jiangxi - Fujian, umas mais radicais, outras mais moderadas. Em Yan'an seguem um programa político moderado. Fala-se em harmonia de classes, e não em luta, não há redistribuição de terras, antes se fala de que os indivíduos proprietários de terras devem voluntariamente baixar as rendas e aqueles que emprestam dinheiro voluntariamente reduzir os juros. Ou seja, uma prática de colaboração, mas com uma forte pressão. Seguiu-se ainda um programa de mobilização da população.
Em 1940, um texto redigido por Mao, "Nova Democracia", aponta duas etapas na revolução chinesa: o estabelecimento da democracia e do socialismo. Mas adverte que no caso chinês tem de se falar num novo tipo de democracia, de uma nova democracia, seguindo a ideia de que nos países subdesenvolvidos havia primeiro que criar as condições de se estabelecer uma democracia e só depois o socialismo. Considerava que a China vivia numa situação semi feudal, semi colonial (guerras do ópio) e também colonial (Manchúria). Logo, a primeira etapa da revolução chinesa seria mudar a forma colonial e semi feudal da sociedade para uma sociedade independente e democrática. A Revolução de 1911 havia sido o começo, mas o processo estava ainda inacabado, e a Revolução de 1911 corresponderia à velha democracia, uma vez que o seu carácter social era o de uma revolução democrato-burguesa e não proletário-socialista. Ou seja, a Revolução de 1911 não era suficiente. Em 1940 vivia-se uma realidade diferente e havia então um paradigma que era o da construção do socialismo e a criação de uma nova democracia. Na verdade, o que parece estar por trás destas ideias de Mao era a sua necessidade de conciliar as ideias do socialismo com as dos nacionalistas do KMT, conciliar o socialismo com as ideias burguesas. Não poderia ser apenas a burguesia a participar no processo e ao início Mao falava também na participação do proletariado ou direcção do proletariado. Mais tarde, um certo revisionismo faz aparecer apenas a parte da "direcção do proletariado", embora o objectivo fosse a ditadura conjunta de todas as classes revolucionárias, burgueses incluídos. 
Quanto à economia nesta Nova Democracia, Mao não propõe a nacionalização de todo o capital privado. O estado viria a tomar o papel da direcção, mas não de tudo, uma vez que a economia chinesa ainda estava num estado atrasado, pelo que havia a noção da necessidade de um certo desenvolvimento. Quanto às terras, haveria o confisco das terras dos terratenentes (aqueles que não trabalham as terras, apenas as arrendam a outros). Em Yan'an havia sido abandonada a ideia de redistribuição de terras em favor de uma diminuição das rendas - agora é diferente, mas continua a ser uma política moderada relativamente ao antecedente a Yan'an. Agora há uma ideia de igualização da propriedade da terra que não é especificamente comunista, uma vez que Sun Yat Sen ("a terra a quem a cultiva") também já havia falado neste sentido e, assim, está ideia poderia ser abraçada também pelos nacionalistas.


Quanto à cultura da Nova Democracia, Mao entendia que havia uma cultura imperialista seguida por alguns chineses que seguiam uma ideologia de escravo. Era necessário afastar essa cultura imperialista e semi-feudal e adoptar-se um novo rumo em que os seus elementos sejam colocados de parte. Uma nova cultura que propunha o arrasar das ideias tradicionais, uma cultura socialista, mescla de algumas características tradicionais chinesas com alguns elementos progressistas estrangeiros.
Após a Nova Democracia, em 1942 seguiu-se a Campanha de Rectificação, zhengfeng, da posição que os indivíduos tinham dentro do partido. Anteriormente havia influência do KMT e agora deveria haver uma revolução ideológica e eliminadas as facções, sendo necessário que todos pensassem da mesma maneira.
Mao encontrava três defeitos no PCC: subjectivismo (defeito na forma de estudo, englobando no subjectivismo o dogmatismo e o empirismo, sendo o dogmatismo o pior defeito, na medida em que não se podia estudar apenas pelos livros, mas sim aproximar os intelectuais do trabalho prático), sectarismo (defeito na forma das relações internas e externas do partido) e formalismo (defeito na forma de escrita). Os defeitos apontados levavam à conclusão da necessidade de uma maior aproximação ao povo e construção de um consenso. Foram, então, organizadas sessões de grupo do partido onde foi fomentada a crítica dos desvios, de forma aos membros do partido poderem aproximar-se da realidade e corrigir os seus erros.
Como resultado esta medida trouxe o domínio de Mao, com controlo total do PCC e independência do controlo soviético.
No entanto, alguns intelectuais insurgem-se contra este estado de coisas manifestando a necessidade de manterem um papel independente e que com a crítica estariam a contribuir para a campanha de rectificação, pois ao conseguirem identificar os problemas estariam a permitir a sua resolução (alguns exemplos de críticos: Wang Shiwei e Ding Ling). Debalde. As razões para a não aceitação da crítica pública pelo PCC prendia-se com a ideia de que tal poderia ser utilizado pelos propagandistas japoneses e nacionalistas e, por outro lado, não encaravam que se devesse dar prerrogativas especiais aos intelectuais - todos deveriam utilizar a crítica privada.
Em Yan'an, depois da Campanha de Rectificação, foram realizadas diversas políticas inovadoras num quadro integrado, com a participação popular, descentralização e poder da comunidade - um centro democrático a partilhar as decisões com a periferia.
Alguns movimentos de mobilização da população foram então lançados: movimento para a redução de tropas e uma administração simples, movimento de deslocação para as aldeias, movimento para a redução de rendas e juros, movimento cooperativo, movimento produtivo e movimento de educação popular.
O objectivo era manter o povo unido, através da sua participação nos mais diferentes domínios públicos (guerra, revolução, economia, política). O projecto de liderança era uma democracia quase directa em que o povo é a base de tudo: das massas para as massas, um processo de decisão que ficou conhecido como "linha de massas". Tudo isto resultaria numa unidade, com a integração de todos os indivíduos até se identificarem uns com os outros, é uma cooperação das classes, sem antagonização das elites sociais.

Após uma colaboração entre os nacionalistas e os comunistas - a Segunda Frente Unida - para fazer face à guerra e ocupação japonesa ("juntos confrontamos a crise nacional"), um incidente em 1941 levou ao afastamento das duas partes. Por outro lado, no final da guerra os comunistas tomaram a iniciativa de ofensiva geral contra os japoneses e Chiang Kai-shek mostrou-se contra esta acção independente comunista.
Com o fim da guerra em 1945, com a rendição do Japão, o KMT ficaria com o direito exclusivo e o PCC com direito em áreas de acção. Mao deixa de insistir numa coligação KMT / PCC e passa a reclamar uma Assembleia Nacional como forma de limitar o poder de Chiang Kai-shek. Em 1945 chegam a acordo com a definição de alguns princípios gerais, como a democratização, o fim do período de tutela, eleições a nível local e, mais tarde, um governo constitucional. Mantinham-se, todavia, certas divergências, como a defesa pelo PCC de um sistema parlamentar e mais poder para as províncias, bem como a integração das tropas comunistas.
Com o fim da guerra os nacionalistas tinham uma série de vantagens relativamente aos comunistas. Desde logo, Chiang Kai-shek era o líder do governo e sobre ele caíram os louros da rendição japonesa. Os nacionalistas tinham ainda mais recursos, controlavam as cidades e os meios de produção industrial. Possuíam mais meios militares e a colaboração dos japoneses e ajuda dos americanos.


O afastamento entre os dois partidos vai aumentando e a guerra civil era inevitável. 
Os comunistas lançam ofensiva, as suas tropas começam a aumentar e a ganhar moral, ao mesmo tempo que as tropas nacionalistas tinham receio em sair das cidades, suas zonas de segurança, e o seu desgaste levou a um estado de desmoralização. A estratégia militar nacionalista teve erros decisivos e o estado do país saído da guerra sino-japonesa era débil. Muita inflação, corrupção generalizada, fragmentação do estado, com perda de apoio da população, dado também o seu estilo tirânico.
Os comunistas acabaram por ganhar a guerra em 1949, instituindo a República Popular da China.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Animação Japonesa

Eis dois belíssimos filmes japoneses de animação, ambos de 2013, recém estreados nos nossos cinemas.
Dois mestres:

de Isao Takahata, O Conto da Princesa Kaguya

de Hayao Miyazaki, As Asas do Vento

sexta-feira, 27 de março de 2015

One's Company e Journey to a War

Dois livros sobre este período da história chinesa da década de 30.


Peter Fleming escreveu One's Company: A Journey to China, um livro de viagens sobre os sete meses de 1933 que passou na China. Embora faça questão de esclarecer que a China é demasiado grande, populosa e variada para que esses meses façam dele um entendido na matéria, este não deixa de ser um relato muitíssimo valioso desta época, cheio de apontamentos irónicos.
A obra está dividida em dois capítulos, um primeiro dedicado ao Machukuo, o estado fantoche criado na Manchuria pelos japoneses, e um segundo dedicado à China Vermelha, numa altura em que a mobilização comunista estava em marcha e os nacionalistas se iam defendendo.


Journey to a War é também um livro de viagens publicado nos anos 1930'. W.H. Auden e Christopher Isherwood oferecem-nos uma obra em verso e prosa. Encontramos aqui poemas de Auden sobre a jornada desta dupla na China em 1938, um diário de viagens de Isherwood sobre essa mesma jornada e as observações de ambos acerca da Guerra Sino-Japonesa. Ainda, uma série de fotografias de Auden.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Manchukuo


O estado de Manchukuo, criado em consequência da ocupação japonesa na Manchúria, seguia uma ideologia confucionista. O "caminho real", ideia de Mêncio - governo pelos que detinham a força e governo pelos que eram legitimados pelo céu - era o postulado dominante. Antes esta região era controlada por senhores da guerra que detinham a força; agora era controlada por um governo legítimo. Seguiam uma ideia de progresso, mas utilizando uma ideologia conservadora chinesa.
Este estado pretendia demonstrar que era o resultado da vontade popular - o que era difícil, pois não só não havia uma história de reclamação da sua independência, como a maioria da população era han (a etnia maioritária na China). Este era um estado fantoche, na medida em que as decisões eram tomadas em função dos interesses japoneses. A governação era seguida em grande parte pelos japoneses, havia peritos do Japão na administração pública e a Companhia de Caminhos de Ferro do Sul vêm a exercer as suas funções em todo o território, bem como o Exército de Guandong.
O Manchukuo estava subordinado ao estado japonês - de acordo com o "novo imperialismo" era um estado independente, mas governado na prática por um estado novo imperial - o Japão.
O Japão utilizou no Manchukuo um modelo que pretendia vir a desenvolver em toda a Ásia. Daí a propaganda acerca do Manchukuo: "o pomar do mundo", "todos vivem em paz", "o paraíso de um novo país, de um novo povo", "paraíso dos antepassados" - ideia de nação.

Depois da instituição da República na China, em 1912, optou-se por preservar o imperador, como forma de pacificação. O imperador não tinha poderes políticos, mas era pago pelo Estado chinês para que mantivesse o seu estilo de vida, incluindo a residência na Cidade Proibida e Palácio de Verão. Esta situação permaneceu até 1924, data em que o imperador foi expulso. Puyi passa a viver na concessão estrangeira japonesa de Tianjin como forma destes estreitarem os seus laços com os manchus. Os japoneses concordavam com um estado manchu, mas não que fosse restabelecida a dinastia Qing. Um compromisso foi alcançado e em 1934 foi dado a Puyi o título de imperador do Manchukuo.

Ao contrário do que refere muita da historiografia chinesa, segundo a qual houve uma resistência generalizada à ocupação japonesa, tal não terá sido assim. Pelo contrário, é certo o colaboracionismo generalizado das elites locais. Esta situação deveu-se à política de não resistência do KMT, com encorajamento do colaboracionismo, e à oposição a Zhang Xueliang, o senhor da guerra local, em virtude da sua aplicação de recursos económicos em meios militares para conquista da supremacia nacional. Por outro lado, havia um saudosismo relativamente ao estado imperial chinês e sentia-se que se tinha entrado no caos com a república. Ou seja, a ideia era a de que o modelo imperial era aquele que deveria ser seguido e que a ligação aos japoneses era necessária para a longo prazo se criar uma sociedade estável. Não obstante, os meios usados pelos japoneses também forçaram esse colaboracionismo, quer com a actuação pela força, quer através da persuasão de projectos sedutores de bem estar social e redução fiscal.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Seria Mao inovador ao colocar os camponeses no centro da sua manobra?


A historiografia ocidental começou por se centrar na "tese maioista", segundo a qual o pensamento de Mao não era ortodoxo, pois ao falar dos camponeses, ao invés do proletariado, seguiu por um caminho diferente daquele seguido pelos influenciados pelas doutrinas soviéticas. Fairbank apontou que essa diferença de Mao se verificava pelas próprias circunstâncias da China, sendo, pois, normal que Mao seguisse orientação distinta. Um seu pupilo, Benjamim Schwartz, utilizou pela primeira vez o termo "maoismo" em 1951, afirmando que Marx e Engels não haviam pensado num papel criativo dos camponeses numa revolução e que Lenine apenas pensou nos camponeses como auxiliares do proletariado revolucionário das cidades.
Já outros pensadores, porém, recusam a originalidade de Mao e apontam a "lenda do maoismo". Karl Wittfogel defende que os camponeses têm no marxismo - leninismo um papel revolucionário fundamental, com papel na revolução burguesa anti-feudal, e já falavam mesmo na revolução no quadro das colónias e semi-colónias pré-capitalistas - a situação da China era uma de atraso em relação àquela pensada por Marx para o modelo socialista e, então, era vista como um destes casos. Dizem que, por outro lado, Lenine já tinha falado na importância de se dar atenção aos camponeses e de se criar sovietes de camponeses (para a Rússia) e que Estaline havia também falado da necessidade da criação de sovietes de operários e camponeses.

A Deusa


O filme "A Deusa" é uma obra prima do cinema mudo chinês e revela-nos aspectos de modernidade, embora seja dominado por uma mentalidade conservadora do papel atribuído à mulher.
Filme de 1934, Shénnǚ foi dirigido por Wu Yonggang. A actriz principal é Ruan Lingyu que tem aqui um desempenho ímpar e marcante. Tragicamente, a estrela chinesa viria a morrer não muito tempo depois. Uma vida infeliz, tal como a da mulher que representa neste filme - uma prostituta que trabalha para poder sustentar-se e ao seu filho. 
A modernidade é visível em grande parte do filme, desde logo nos seus momentos iniciais, onde a profusão de cabos e fios de electricidade e a luz e os neons nos mostram que eram tempos modernos os que se viviam naquela Xangai. Igualmente, quando a mãe-prostituta busca trabalho nas fábricas, as chaminés mostram-nos a dinâmica da urbe industrial moderna, já então assolada pelo desemprego.
Embora esta obra marcadamente da cena cinematográfica da esquerda de Xangai nos mostre uma mulher no seu papel tradicional de mãe, vemos igualmente uma mulher que já espera pouco da sociedade em geral e dos homens em particular e luta para conseguir dar ao seu filho um futuro melhor. Uma heroína, uma mulher no papel de mãe que tudo sacrifica pelo seu filho. No fim, obtém assim a salvação pelo sacrifício.



sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

China - Da Década de Nanquim até à Invasão Japonesa, com sobrevivência comunista pelo meio (1927-1937)

Os nacionalistas do KMT procederam à unificação nacional e tomaram o poder. A capital foi transferida de Beijing para Nanquim e o nome da primeira alterado para Beiping. Os senhores da guerra, que não haviam sido derrotados no campo de batalha, foram cooptados para o movimento revolucionário nacionalista e tornaram-se comandantes do Exército Revolucionário Nacional. Ou seja, a Unificação Nacional era apenas nominal e os senhores da guerra mantiveram o seu poder militar e geriam localmente. Mais do que isso, passaram a ser os "novos senhores da guerra", figuras prestigiadas que desempenhariam cargos políticos.

Chiang Kai-shek, o generalíssimo, tornou-se Presidente do Conselho de Estado. Nesta ditadura militar, ele dominava a todos os níveis, exército, partido e governo. Aquela que é designada como a Década de Nanquim pode ser caracterizada como anti-comunista, com uma concentração nas virtudes da ordem, harmonia, disciplina e hierarquia. 

Existia ainda fragmentação e uma guerra com o Japão, que exercia uma atitude muito agressiva em relação à China. A época era de dificuldades.


Ainda assim, eram tempos de modernidade - pretendia-se uma nação moderna com costumes modernos (que implicavam, entre outros, a erradicação do calendário lunar, o corte da trança e o fim do enfaixamento dos pés). O Movimento 4 de Maio incorporou noções de alteração mental na sociedade. Esta modernidade pode ser apontada sob vários aspectos. Seja na entrada de produtos estrangeiros (que já vinha do século anterior) que não eram conhecidos, como a fotografia, novos meios de locomoção, o telefone e a electricidade; seja nas questões de género, com uma mudança do papel da mulher na sociedade - a mulher tradicional, "boa esposa, sábia mãe", deu lugar à nova mulher, educada, politizada e nacionalista - a ênfase era colocada nos atributos biológicos e já não nos familiares; seja na atenção dada ao culto do corpo, no sentido de preservação da vida e ligado às práticas modernas de limpeza e higiene, bem como à forma de encarar a educação física como um progresso, na medida em que o desenvolvimento físico da população faria face aos estrangeiros, podendo os cidadãos prestar assim um melhor contributo à sociedade. Ou seja, o interesse individual tornava-se colectivo, a educação física como um meio de fortalecer a nação, como já escrevia Mao Zedong, em 1917, na Revista Nova Juventude.
Veríamos ainda que o nacionalismo e a cidadania andariam de braços dados. Por esta altura promoveu-se uma cultura de consumo dos produtos nacionais como forma de defender a nação e construção de uma consciência nacional.

O governo nacionalista lançou o Movimento Nova Vida em 1934. Este era uma resposta a outros movimentos culturais e sociais surgidos na China nas décadas anteriores. Chiang Kai-shek criticava o Movimento Nova Cultura dizendo que este venerava os elementos vindos de fora, era individualista e ignorava a nação, a disciplina e a sociedade. Por outro lado, este Movimento Nova Vida era também uma reacção contra a ideia de conflito de classes surgida com os comunistas. Ou seja, pretendia ser como que uma terceira via, uma revolução cultural que implicasse também a tradição. Vai-se exigir que a sociedade como um todo mude a sua forma de agir e altere o seu comportamento, de forma a regenerar-se socialmente, o que seria alcançado através da disciplina e da ordem, ao invés da revolução violenta. Era como que uma re-orientação do povo, seguindo uma boa conduta, através do rito, da rectidão, da honestidade e do sentimento de vergonha. Ou seja, o seguimento das tradições. Começar-se-ia do simples até se chegar ao complexo - reforma exterior, da higiene ao comportamento, até uma reforma interior, a regeneração moral com tomada de consciência dos problemas. Tudo isto no sentido do fortalecimento do estado.

Este movimento gerou algum entusiasmo nos dois primeiros anos, mas depois foi desaparecendo. Houve uma falta de interesse por parte dos cidadãos e muitos viam-no como algo extremamente superficial. Entendiam que o estado estava preocupado com certas condutas dos indivíduos, mas no fundo não trazia nada à população e não transformaria as suas vidas, ou seja, era apenas um conjunto de obrigações sem contrapartidas.

Esta década foi ainda marcada pelos conflitos com o Japão.
Como antecedente, refira-se que com o Tratado de Shimonoseki, em 1895, o Japão já tinha conseguido ficar com a Península de Liaodong. Os planos para criação de uma Manchúria independente por parte dos japoneses já eram antigos. A partir da exploração da linha férrea por parte da Companhia de Caminhos de Ferro do Sul da Manchúria (privada, mas com intervenção do governo japonês), esta vai extravasar as suas competências e passar a administrar a cidade, cobrando impostos, planeando a cidade, construindo estradas, redes de água e gás e investindo em escolas. Seguiu-se um modelo de administração que incluía um plano para explorar a agricultura, as minas e a indústria de terras ao longo do caminho da linha. Esta linha de caminho de ferro passa a assumir um carácter urbanizado, pois ao seu longo são implantadas fábricas e outras infra-estruturas essenciais a um plano urbanístico. A China é incapaz de se opor a este avanço japonês. 


Em 1931 deu-se a invasão da Manchúria, sem surpresa, uma vez que o contexto da época era o de uma expansão territorial japonesa, que se via portadora do direito e da obrigação moral de liderar a Ásia contra o domínio ocidental. A unificação da China em finais da década de 20 fez com que os japoneses se sentissem de alguma forma ameaçados nos seus interesses na Manchúria,  à medida que o estado chinês se ia fortalecendo e nele crescendo um sentimento nacionalista e anti japonês. O incidente de Mukden, em Setembro de 1931, foi o pretexto para a invasão. O livro Lotus Azul de Tintin recria livremente os factos. Os japoneses dizem que houve um acto de sabotagem por parte dos chineses numa linha de caminho de ferro, embora não houvessem grandes vestígios da alegada bomba. O Japão pensou na anexação, mas acabou por recorrer a outra solução: a criação do Estado do Manchukuo em 1932. A prática mostraria que este era um estado fantoche, pois a governação era seguida pelos japoneses e em função dos seus interesses.

Em termos de política interna na China, os comunistas iam preparando o seu caminho em tempos de governação nacionalista. O PCC havia sido criado em 1921 e começou por ser aliado do KMT. Após a purga dos comunistas e o fim desta primeira aliança, o partido organizou-se clandestinamente. Foram enviados um conjunto de indivíduos para a Rússia - os 28 bolcheviques - e uma nova liderança foi criada, a qual seguia uma orientação estalinista de acção a partir das cidades para dai conquistar todo o território - orientação que seria posta em causa por Mao, que entendia que a solução estaria nas zonas rurais e na organização dos camponeses. Ou seja, colocava a ênfase nos camponeses e não no proletariado, ao contrário das teorias marxistas-leninistas.

Até 1929, Mao utilizou a argumentação em linha com o que defendia a liderança do PCC, segundo a qual a liderança do operariado era fundamental, sem prejuízo de se ter em atenção o campo. No entanto, a partir daí Mao irá defender a imediata formação de sovietes rurais, com confisco da terra e sua redistribuição. Nas montanhas de Jianggang irá aplicar a sua política de distribuição de terrenos menos férteis para os camponeses ricos. Mas há oposição e Mao é confrontado com uma falta de consenso que não esperava, o que influenciou a sua acção para o futuro.

Criou, então, o soviete de Jiangxi - Fujian com mobilização das massas para participação no processo revolucionário. Passa a falar de uma redistribuição de terras igual para todos, ou seja, um compromisso com os camponeses ricos, terratenentes e intelectuais (os quais passam a ser utilizados para a educação de massas). Em Novembro de 1931 foi criada a República Soviética Chinesa, onde Mao tem o papel mais alto da administração. Todavia, em seguida Mao é afastado por discordâncias com altos membros do PCC e por este território ser constantemente atacado por forças do KMT. Serão os 28 bolcheviques que irão liderar esta República e Mao é colocado de lado e criticado pela sua política conciliatória e aclassista. 

Por intervenção do KMT, que procede ao "Extermínio dos Bandidos", cercando e bloqueando economicamente o soviete de Jiangxi - Fujian, os comunistas são obrigados a retirar e vão deslocar-se para norte, em fuga, dando início à Longa Marcha (1934-35). A sua liderança fica destroçada e é abandonada a estratégia soviética de organização centrada nos núcleos urbanos. Chega-se à conclusão de que os 28 bolcheviques estavam errados e a figura de Mao é reabilitada.


Apenas um quinto dos que participaram na Longa Marcha chegaram ao seu destino. Esta pode ser encarada como um manifesto, um meio de propaganda, o Exército Vermelho como libertador. Os territórios por onde foi passando a Longa Marcha eram territórios de minorias étnicas, daí que se procurasse lançar sementes para colher no futuro. O PCC acaba por estar associado a um mito heróico que é o da criação da República Popular da China. No entanto, tentou dar uma ideia da Longa Marcha que não corresponde à verdade, quer quanto à área percorrida, quer quanto aos indivíduos que não chegaram ao fim (vítimas do KMT ou das condições adversas? ou dissensões e deserções?).

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

China - da Revolução à Unificação Nacional (1911-1927)


O início do século XX assistiu à adopção de novas políticas (reformas Xinzheng), nomeadamente ao nível educativo, com a criação de novas escolas e a introdução de um currículo misto que abarcasse também matérias valorizadas no ocidente, como é o caso da ciência. Em 1905 foram abolidos os exames do mandarinato, instituição milenar chinesa. Foi criado um novo exército e iniciou-se um projecto e uma reforma política a nível radical: a preparação de uma monarquia constitucional. Instituíram-se assembleias provinciais através do voto, ainda que com restrições, como em todos os países do mundo na época. Ou seja, houve uma tentativa de adoptar-se uma série de ideias e técnicas ocidentais às necessidades da China, das quais a monarquia constitucional seria o culminar do processo.

Os comerciantes começaram a ascender de estatuto com a criação das câmaras de comércio e a tornarem-se activos em termos de nacionalismo e a gentry, os letrados terratenentes (aqueles que não tinham entrado na administração mas possuíam estudos), vão dedicar-se ao bem público através de obras que vão realizando, exercendo, assim, alguma influência ao nível local. Ou seja, todo um conjunto de indivíduos passam a participar no bem público e a concluir que podem também participar no estado dentro da sua estrutura. Este activismo político, com uma maior politização da sociedade, com oposição ao estado Qing, levará a uma adesão aos ideais da revolução que agora já não pretende uma monarquia constitucional. Agora deseja a república e o completo afastamento do poder dos manchus. O nacionalismo emergia, também expresso nos movimentos que iam surgindo de recuperação aos estrangeiros dos caminhos-de-ferro e direitos dos mineiros.


O revolucionário Sun Yat-Sen mesclaria nas suas políticas elementos de nacionalismo, republicanismo e também socialismo. Em 1905 alcança a fusão das várias associações que lutavam pelo mesmo fim e é criada a Associação da Aliança Chinesa, o Zhongguo Tongmenghui, cujo juramento pugnava pela "expulsão dos manchus, restauração do governo chinês, estabelecimento de uma república e igualdade da terra". Sun Yat-Sen define os "Três Princípios do Povo": nacionalismo, democracia e subsistência; bem como os quatro direitos do povo (iniciativa, referendo, eleição e destituição) e os cinco poderes do governo (aos tradicionais - sob o ponto de vista ocidental - executivo, legislativo e judicial juntava-se o controlo e a examinação). Curioso verificar como o princípio da subsistência tinha já aqui lugar, como reconhecimento da necessidade de se regular o capital e igualizar a terra. Esta é claramente uma influência dos Taiping, mas, ao mesmo tempo, vai buscar uma ideia de Mêncio para ser aplicada na nacionalização da terra (a terra dividida em nove parcelas - # - sendo que a do meio seria de trabalho comum que serviria de tributação para o estado, enquanto que nas oito restantes parcelas as famílias trabalhariam a sua terra individualmente). O objectivo da nacionalização da terra prendia-se com a tentativa de evitar a tributação excessiva e eliminar a demasiada importância dos senhorios.

A Revolução acabou por acontecer em 1911, com um golpe militar em Wuchang e não no sul da China, como esperado (Sun Yat-Sen partia de Cantão), e sem sangue. Foi de seguida constituído um governo militar em Hubei e as 18 províncias aderem à revolução e vão declarando a secessão face ao governo central. Os Qing recorrem a Yuan Shikai, que fazia parte do establishment e já tinha defendido os Qing aquando da Revolução dos Boxers. Puyi, então imperador (o último), aceita o programa de reformas imposto por Yuan Shikai que implicava a constituição de um parlamento nacional que servisse de contraponto ao poder imperial. Os revolucionários, por sua vez, viam Yuan Shikai e a sua moderação como uma alternativa válida a uma eventual guerra civil, pelo que propõem que este assuma a presidência em troca da abdicação imperial, o que viria a acontecer. 


A República é declarada a 1/1/1912 e Yuan Shikai é o seu primeiro presidente, contra todas as perspectivas que apontavam Sun Yat-Sen no seu lugar (não passou de presidente provisório). Acontece que este estava na altura nos EUA e foi outro o escolhido pela negociação dos revolucionários.

Esta revolução é um caso atípico na história da China - uma revolução que teve por base os centros urbanos, as elites, e não rurais da China. Participaram os revolucionários urbanos, os reformadores, os militares e as sociedades secretas. No entanto, as grandes figuras revolucionárias acabaram por não participar.

O período pós-revolucionário trouxe a criação de um parlamento provisório, constituído por representantes das províncias, algo conservadores, e com uma minoria de membros do Tongmenghui. O parlamento era visto como uma forma de se limitar os poderes do presidente.
Mas Yuan Shikai possuía uma grande preponderância e uma função muito limitada foi atribuída àqueles que não fossem seus apoiantes. O parlamento acabou por ser visto como um fantoche e Yuan Shikai como um traidor da República. Tentativas de depô-lo saíram frustadas e uma segunda revolução foi por ele abortada. Um movimento monárquico surge e, com ele, os sonhos de Yuan Shikai ser o novo imperador da China de uma nova dinastia a iniciar em 1916. Yuan Shikai acaba por morrer de doença e é visto hoje pela história com uma figura maldita, como um entrave às forças revolucionárias. No entanto, 1912 terá sido uma das épocas mais democráticas e com mais participação na China e o próprio Yuan Shikai era favorável à modernização, defendendo conselheiros estrangeiros e um judiciário independente - logo, a sua figura é algo complexa.

O legado da Revolução de 1911 é, pois, ambíguo. Se por um lado alcançou os objectivos de derrubar os manchus, a ordem imperial e implantar uma república, por outro lado, Yuan Shikai tornou difícil o funcionamento do parlamento e constituição, com prejuízo para a unidade nacional, permanecendo as anteriores elites no poder.


Assim, a presidência e o parlamento acabaram por ser brinquedos nas mãos dos senhores da guerra, os militares que dispunham do poder localmente (nas províncias). Assistiu-se a uma fraqueza do centro, com a disputa do poder por várias facções, entre os militares e entre estes e os letrados. 
O período dos senhores da guerra levou a uma desintegração da China em termos políticos. Havia uma autoridade central de poder, mas esta deixou de controlar grandes parcelas de território. O caos, a desordem e a violência institucionalizaram-se. A posse do poder militar permitiu o controlo de uma região pelo uso da força. A fragmentação do poder só terminaria em 1928. Esta fragmentação talvez corresponda a um padrão histórico, uma vez que entre o fim da dinastia Han (220) e o início da Sui (509) também houve um interregno, bem como após a revolta dos Boxers, em que as províncias se autonomizaram do centro com sucessivas declarações de independência. Ou talvez fosse a consequência da implementação de um projecto novo que não correu bem, uma vez que a introdução de alguns elementos ocidentais modernos não foi acompanhada pela devida assimilação mental por parte dos chineses.

Todavia, este período dos senhores da guerra acabou por ser extremamente vibrante em termos intelectuais, com o desenvolvimento da imprensa e confrontação de opiniões. Alguns senhores da guerra foram reformadores e estes estariam mais aptos do que os letrados para implementar as reformas que viriam a permitir a posterior modernização, uma vez que estes últimos eram conservadores. 

Foi ainda um grande período para escritores, artistas e empreendedores, uma vez que muitas mudanças sociais aconteceram. O Guomindang (KMT) e o Partido Comunista Chinês foram fundados nesta época, bem como outras organizações políticas, assim como emergiram diversos movimentos de estudantes, trabalhadores e mulheres. 


Um destes movimentos foi o Movimento Nova Cultura. Teve início em 1915 com a revista Juventude, renomeada Nova Juventude no ano seguinte. Aqui promovia-se um ataque aos vestígios confucionistas e apontava-se a sua incompatibilidade com as novas crenças, com a nova sociedade e com o novo estado. Emergiu uma oposição à cultura tradicional e o desenvolvimento de ideias influenciadas pelo ocidente. Havia a noção de que a república não tinha resolvido nada e tudo continuava como antes. O problema, afinal, não era do domínio manchu, mas antes um problema intrínseco à própria China, possuidora de uma cultura que a impedia de progredir. O despontar deste movimento foi motivado pelo ultimato que o Japão havia realizado à China, com 21 exigências que limitavam grandemente a sua soberania, posteriormente alteradas para 13 exigências que Yuan Shikai aceitou. Isto foi visto como uma posição de subserviência - afinal os próprios han também se deixavam subjugar, não eram só os manchus a fazê-lo. Conclusão: a China tinha mentalidade de escravo. 

Chen Duxiu, o fundador da revista Juventude (e mais tarde, em 1921, do PCC, juntamente com LinDazhao), fez em 1915 um "Chamamento aos Jovens", um apelo para que eliminassem o que era velho e podre na sociedade chinesa, como que uma selecção natural (de referir que estavam em voga as teorias darwinistas).

A par disso, a Universidade Nacional de Pequim crescia rapidamente em proeminência como líder chinesa no ensino e investigação. Com as reformas de 1917 de Cai Yumpei a universidade abandona o seu cunho conservador e passa a considerar-se que o ensino deveria ter um objectivo mais amplo que o de criar indivíduos que pudessem entrar na administração pública. Deveria, antes, ser um lugar onde se pudesse criar e difundir ideias, com liberdade de pensamento e um debate diversificado. Lu Xun, o grande escritor, defendia, por exemplo, o uso da linguagem vernacular. A sua obra "Diário de um louco" é uma alegoria, em que as pessoas se comem umas às outras, as vítimas impassíveis, denunciando o autor a ideia de submissão expressa nas ideias confucionistas.


O Movimento 4 de Maio (de 1919) - muitas vezes integrado no Movimento Nova Cultura - é uma rebelião cultural surgida na sequência do Tratado de Versalhes, após a I Grande Guerra Mundial. A China havia criado a expectativa de que recuperaria os territórios do Shandong que os japoneses tinham invadido durante a guerra, reclamando a sua sucessão nos direitos da Alemanha (perdedora da guerra) sobre estes territórios. Tal não veio a acontecer e a reacção dos estudantes de Pequim - que se estenderam por toda a China - foi uma grande manifestação, que durou até ao final desse ano, convidando toda a população a juntar-se a eles. Os comerciantes aderem às manifestações e decretam uma série de greves. Ou seja, o movimento passou a ter um alcance diversificado, com a adesão de muitas outras forças sociais, como bombeiros, policias, funcionários postais. A delegação chinesa não assinou o Tratado de Versalhes, mas a situação manteve-se. Anos mais tarde, sob pressão da comunidade internacional, o Japão devolveria os territórios.

A relevância deste Movimento 4 de Maio é tal que, em 1989, os estudantes em Tiananmen invocaram-no - 70 anos depois, entendiam que se deveria seguir as pisadas desse movimento.
Recordar que estes eram ainda tempos de desunião política a nível nacional.

A unificação nacional viria a ser preparada através do estabelecimento de forças do Guomindang no sul, com diligências nesse sentido por parte de Sun Yat-Sen, o pai da nação chinesa. Estabelecido um governo militar em Cantão, em 1923 é iniciada uma expedição para norte, em busca de apoios. O KMT mostrou interesse em aproximar-se dos comunistas, piscando o olho ao apoio russo, à ligação às redes agrárias e às ideias socialistas do Movimento 4 de Maio.

Assim, nesse ano é estabelecido um acordo de cooperação União Soviética - KMT - PCC. Chiang Kai-shek, do KMT, centra sobre si a figura do acordo, indo para a União Soviética para realizar treino e voltando para constituir a Academia Militar de Whampoa. Entre 1923 e 1927 assiste-se à Primeira Frente Unida, aliança entre KMT e PCC (voltariam a cooperar aquando da invasão japonesa dos anos 30). O objectivo era alcançar a unificação e atingir a completa independência nacional. Ambos os partidos eram anti-imperialistas e anti-senhores da guerra.

Diversos incidentes levaram à separação das duas organizações, com purgas dos comunistas dentro do KMT.


Sun Yat-Sen morre em 1925 e Chiang Kai-shek, o novo líder do KMT, segue o seu legado, incluindo a expedição para norte. Aqui foram sendo efectuadas uma série de alianças com vários senhores da guerra durante o caminho. Houve, igualmente, uma aproximação à elite financeira e a organizações como o Gangue Verde, em busca de financiamento.

A unificação nacional é alcançada e entre 1927 e 1937 viver-se-ia a designada "Década de Nanquim", com governo nacionalista.