A Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) deve ser vista no quadro de relações tensas que se estabeleceram entre a China e o Japão após 1931.
O Japão invade a China em 1937 invocando o direito de legítima defesa preventiva tendo em conta o sentimento anti-japonês promovido pelas autoridades chinesas que haviam adoptado como política nacional a antagonização do Japão. Pretendiam estes a criação de uma Nova Ordem na Ásia Oriental. O Japão desejava uma política de cooperação, um estado independente dominado pelos interesses japoneses, mas com autoridades locais. A China não responde e o Japão continua a avançar até Nanquim, passando a ter como objectivo o derrube do governo nacionalista na China.
Nanquim, na altura capital, é ocupada em Dezembro de 1937 e aí iria ser perpetrado o bárbaro acontecimento conhecido como Massacre de Nanquim (ou violação). Estima-se que tenham morrido cerca de 200 000 pessoas num período de tempo muito curto. A ocupação durou seis semanas, mas os mortos aconteceram esmagadoramente na primeira semana.
Em 1938 a China estava dividida e os japoneses controlavam sobretudo as zonas urbanas, enquanto que muitas zonas rurais eram já controladas pelos comunistas. Face a esta China ocupada, não restava à população outras alternativas que não a fuga (para a concessão francesa em Xangai ou para Hong Kong ou Macau), a resistência (guerrilha comunista no interior) ou a passividade ou colaboração.
Chiang Kai-shek optava pela posição de não resistir nem negociar. Entendia que primeiro havia que eliminar os problemas internos - os comunistas. No entanto, Chiang Kai-shek tinha também a oposição interna de Wang Jingwei, da ala esquerda do seu próprio partido.
Havia falta de produtos, sobretudo manufaturados, a produção local era reduzida e o bloqueio económico japonês prejudicava e muito o país. O Estado possuía muitas despesas e os rendimentos eram curtos. A opção pela emissão de papel moeda trouxe como consequência o grave revés da inflação, para além da especulação e corrupção que se seguiram. O sentimento entre a população era de injustiça e desigualdade.
A Longa Marcha dos comunistas havia chegado a Yan'an em 1935 e na próxima década os seguidores de Mao desenvolveriam aqui as suas experiências e exerceriam algum controlo a norte da China.
Os comunistas já tinham tido a oportunidade de implementar as suas políticas com a criação do Soviete de Jiangxi - Fujian, umas mais radicais, outras mais moderadas. Em Yan'an seguem um programa político moderado. Fala-se em harmonia de classes, e não em luta, não há redistribuição de terras, antes se fala de que os indivíduos proprietários de terras devem voluntariamente baixar as rendas e aqueles que emprestam dinheiro voluntariamente reduzir os juros. Ou seja, uma prática de colaboração, mas com uma forte pressão. Seguiu-se ainda um programa de mobilização da população.
Em 1940, um texto redigido por Mao, "Nova Democracia", aponta duas etapas na revolução chinesa: o estabelecimento da democracia e do socialismo. Mas adverte que no caso chinês tem de se falar num novo tipo de democracia, de uma nova democracia, seguindo a ideia de que nos países subdesenvolvidos havia primeiro que criar as condições de se estabelecer uma democracia e só depois o socialismo. Considerava que a China vivia numa situação semi feudal, semi colonial (guerras do ópio) e também colonial (Manchúria). Logo, a primeira etapa da revolução chinesa seria mudar a forma colonial e semi feudal da sociedade para uma sociedade independente e democrática. A Revolução de 1911 havia sido o começo, mas o processo estava ainda inacabado, e a Revolução de 1911 corresponderia à velha democracia, uma vez que o seu carácter social era o de uma revolução democrato-burguesa e não proletário-socialista. Ou seja, a Revolução de 1911 não era suficiente. Em 1940 vivia-se uma realidade diferente e havia então um paradigma que era o da construção do socialismo e a criação de uma nova democracia. Na verdade, o que parece estar por trás destas ideias de Mao era a sua necessidade de conciliar as ideias do socialismo com as dos nacionalistas do KMT, conciliar o socialismo com as ideias burguesas. Não poderia ser apenas a burguesia a participar no processo e ao início Mao falava também na participação do proletariado ou direcção do proletariado. Mais tarde, um certo revisionismo faz aparecer apenas a parte da "direcção do proletariado", embora o objectivo fosse a ditadura conjunta de todas as classes revolucionárias, burgueses incluídos.
Quanto à economia nesta Nova Democracia, Mao não propõe a nacionalização de todo o capital privado. O estado viria a tomar o papel da direcção, mas não de tudo, uma vez que a economia chinesa ainda estava num estado atrasado, pelo que havia a noção da necessidade de um certo desenvolvimento. Quanto às terras, haveria o confisco das terras dos terratenentes (aqueles que não trabalham as terras, apenas as arrendam a outros). Em Yan'an havia sido abandonada a ideia de redistribuição de terras em favor de uma diminuição das rendas - agora é diferente, mas continua a ser uma política moderada relativamente ao antecedente a Yan'an. Agora há uma ideia de igualização da propriedade da terra que não é especificamente comunista, uma vez que Sun Yat Sen ("a terra a quem a cultiva") também já havia falado neste sentido e, assim, está ideia poderia ser abraçada também pelos nacionalistas.
Quanto à cultura da Nova Democracia, Mao entendia que havia uma cultura imperialista seguida por alguns chineses que seguiam uma ideologia de escravo. Era necessário afastar essa cultura imperialista e semi-feudal e adoptar-se um novo rumo em que os seus elementos sejam colocados de parte. Uma nova cultura que propunha o arrasar das ideias tradicionais, uma cultura socialista, mescla de algumas características tradicionais chinesas com alguns elementos progressistas estrangeiros.
Após a Nova Democracia, em 1942 seguiu-se a Campanha de Rectificação, zhengfeng, da posição que os indivíduos tinham dentro do partido. Anteriormente havia influência do KMT e agora deveria haver uma revolução ideológica e eliminadas as facções, sendo necessário que todos pensassem da mesma maneira.
Mao encontrava três defeitos no PCC: subjectivismo (defeito na forma de estudo, englobando no subjectivismo o dogmatismo e o empirismo, sendo o dogmatismo o pior defeito, na medida em que não se podia estudar apenas pelos livros, mas sim aproximar os intelectuais do trabalho prático), sectarismo (defeito na forma das relações internas e externas do partido) e formalismo (defeito na forma de escrita). Os defeitos apontados levavam à conclusão da necessidade de uma maior aproximação ao povo e construção de um consenso. Foram, então, organizadas sessões de grupo do partido onde foi fomentada a crítica dos desvios, de forma aos membros do partido poderem aproximar-se da realidade e corrigir os seus erros.
Como resultado esta medida trouxe o domínio de Mao, com controlo total do PCC e independência do controlo soviético.
No entanto, alguns intelectuais insurgem-se contra este estado de coisas manifestando a necessidade de manterem um papel independente e que com a crítica estariam a contribuir para a campanha de rectificação, pois ao conseguirem identificar os problemas estariam a permitir a sua resolução (alguns exemplos de críticos: Wang Shiwei e Ding Ling). Debalde. As razões para a não aceitação da crítica pública pelo PCC prendia-se com a ideia de que tal poderia ser utilizado pelos propagandistas japoneses e nacionalistas e, por outro lado, não encaravam que se devesse dar prerrogativas especiais aos intelectuais - todos deveriam utilizar a crítica privada.
Em Yan'an, depois da Campanha de Rectificação, foram realizadas diversas políticas inovadoras num quadro integrado, com a participação popular, descentralização e poder da comunidade - um centro democrático a partilhar as decisões com a periferia.
Alguns movimentos de mobilização da população foram então lançados: movimento para a redução de tropas e uma administração simples, movimento de deslocação para as aldeias, movimento para a redução de rendas e juros, movimento cooperativo, movimento produtivo e movimento de educação popular.
O objectivo era manter o povo unido, através da sua participação nos mais diferentes domínios públicos (guerra, revolução, economia, política). O projecto de liderança era uma democracia quase directa em que o povo é a base de tudo: das massas para as massas, um processo de decisão que ficou conhecido como "linha de massas". Tudo isto resultaria numa unidade, com a integração de todos os indivíduos até se identificarem uns com os outros, é uma cooperação das classes, sem antagonização das elites sociais.
Após uma colaboração entre os nacionalistas e os comunistas - a Segunda Frente Unida - para fazer face à guerra e ocupação japonesa ("juntos confrontamos a crise nacional"), um incidente em 1941 levou ao afastamento das duas partes. Por outro lado, no final da guerra os comunistas tomaram a iniciativa de ofensiva geral contra os japoneses e Chiang Kai-shek mostrou-se contra esta acção independente comunista.
Com o fim da guerra em 1945, com a rendição do Japão, o KMT ficaria com o direito exclusivo e o PCC com direito em áreas de acção. Mao deixa de insistir numa coligação KMT / PCC e passa a reclamar uma Assembleia Nacional como forma de limitar o poder de Chiang Kai-shek. Em 1945 chegam a acordo com a definição de alguns princípios gerais, como a democratização, o fim do período de tutela, eleições a nível local e, mais tarde, um governo constitucional. Mantinham-se, todavia, certas divergências, como a defesa pelo PCC de um sistema parlamentar e mais poder para as províncias, bem como a integração das tropas comunistas.
Com o fim da guerra os nacionalistas tinham uma série de vantagens relativamente aos comunistas. Desde logo, Chiang Kai-shek era o líder do governo e sobre ele caíram os louros da rendição japonesa. Os nacionalistas tinham ainda mais recursos, controlavam as cidades e os meios de produção industrial. Possuíam mais meios militares e a colaboração dos japoneses e ajuda dos americanos.
O afastamento entre os dois partidos vai aumentando e a guerra civil era inevitável.
Os comunistas lançam ofensiva, as suas tropas começam a aumentar e a ganhar moral, ao mesmo tempo que as tropas nacionalistas tinham receio em sair das cidades, suas zonas de segurança, e o seu desgaste levou a um estado de desmoralização. A estratégia militar nacionalista teve erros decisivos e o estado do país saído da guerra sino-japonesa era débil. Muita inflação, corrupção generalizada, fragmentação do estado, com perda de apoio da população, dado também o seu estilo tirânico.
Os comunistas acabaram por ganhar a guerra em 1949, instituindo a República Popular da China.