A Imagem Que Falta, no original L'image manquante, é um filme de 2013 de Rithy Panh.
Já por aqui (http://estudanteasiatica.blogspot.pt/search?q=Panh) falámos desde cambojano.
Os seus filmes são todos muito pessoais, mas este é declaradamente autobiográfico. Traz-nos as memórias da sua infância, quando a partir dos 13 anos, depois de vida pacata na capital Phnom Penh, é levado juntamente com a sua família para os campos de trabalho, com o objectivo de re-educar as pessoas imbuindo-as do espirito revolucionário socialista. Eram os tempos da ascensão do Khmer Rouge de Pol Pot. O terror dominava, com torturas em massa, muita crueldade e fanatismo por parte de quem nesses anos 70 do século passado tomou o poder.
Diz-nos o narrador, de forma melodiosa, tomando a vez de Rithy Panh:
"Há tantas imagens no mundo, que acreditamos ter visto tudo. Pensado tudo. Há muitos anos que procuro uma imagem que falta. Uma fotografia tirada entre 1975 e 1979 pelos Khmers vermelhos, quando dirigiam o Camboja. Claro, por si só, uma imagem não prova o crime em massa; mas faz pensar; faz meditar. Ajuda a construir a história. Procurei-a em vão nos arquivos, nos documentos, nas aldeias do meu país. Agora sei: essa imagem deve faltar; e não a procurava – não seria obscena e sem significado? Então fabrico-a. O que eu ofereço hoje não é uma imagem, ou a busca de uma única imagem, mas a imagem de uma busca: aquela que o cinema permite. Algumas imagens devem continuar a faltar, devem sempre ser substituídas por outras: nesse movimento encontra-se a vida, o combate, a pena e a beleza, a tristeza dos rostos perdidos, a compreensão daquilo que existiu; por vezes a nobreza, e até a coragem: mas o esquecimento, nunca."
Ao longo do filme documentário, Panh vai dando forma às suas memórias de uma maneira magistral. Trabalhando com um escultor, filma as cenas com modelos de figuras de barro. Tal como um Buda a quem se ora, fala e chora, ele pretende que estas figuras possuam igualmente uma alma. São elas o veículo de transmissão das suas memórias e este seu acto de recordar funciona como uma forma de resistência, para além de tentar entender a natureza do crime perpetrado contra milhões de cambojanos.
Rithy Panh perdeu toda a sua família próxima nos campos de trabalho. Felizmente há esperança e a humanidade não está só presente nos seus pequenos bonecos de barro, está também na sua grande sensibilidade em nos mostrar as suas sofridas memórias.
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