quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Cinema de Wong Kar Wai

De Wong Kar Wai (WKW) já tinha visto “In The Mood for Love” –“Disponível para Amar”, de 2000, e “My Blueberry Nights”, de 2007. Este último, recente, ainda tinha na memória, e lembro que gostei. E lembro, sobretudo, da sua música, principalmente o “The Greatest” de Cat Power.



Agora revi “In The Mood for Love” e vi “Chungking Express”, de 1994, e “Happy Together”, de 1997.
E fiquei a saber que a música não é um elemento de somenos em WKW. Aliás, ainda que ele se dedique a vários géneros, o melodrama, um desses géneros, é isso mesmo – um drama musical. E encontramos música do mundo, por exemplo Nat King Cole a cantar o Quizás em espanhol em In The Mood for Love.
Esta é apenas mais uma prova da multiculturalidade e cosmopolitanismo dos filmes de WKW. Por exemplo, este filme é passado em Hong Kong, mas filmado em Banguecoque, Tailândia, procurando recriar a Shanghai dos anos 50/60 da infância do realizador, e termina em Angkor Wat, Camboja. Chega? Ok, Chungking Express trata de Hong Kong. Mas Happy Together é passado na Argentina. E My Blueberry Nights rola em vários locais dos Estados Unidos da América.
Temas recorrentes em WKW são a questão da cidade, da modernidade e da identidade. A questão da migração, também, com o sujeito em crise – o que acontece em todos estes 4 filmes.



Chungking Express são duas histórias separadas dentro do mesmo filme. Dois policias numa Hong Kong frenética. A sequência inicial do filme, em slow-motion e acompanhada com uma música que lá encaixa na perfeição é imperdível. Sempre com um ritmo acelerado, relógios presente, comida presente, o dia a dia certeiramente retratado na confusão da grande cidade de Hong Kong. É um filme fantástico.



Happy Together gira à volta de um casal de homens de Hong Kong que vão até a Argentina tentar salvar a sua relação instável. Um deles tinha um daqueles objectos que se encontram nas lojas chinesas e de recordações fatelas com a imagem das cataratas de Iguazu e eles tentam lá chegar de carro – em vão. Dividem-se, mas voltam a encontrar-se. Um tenta arranjar trabalho – o actor Tony Leung Chiu-Wai, (quase) sempre presente nos filmes de WKW – e o outro nem por isso. Mas ambos desejam voltar para o seu país. Muito bom este filme.



In The Mood for Love é muito bonito. Há aqui uma nostalgia do passado (já “2046”, que não vi, é a outra parte do puzzle, uma projecção do futuro) que juntamente com a música, que surge como interlúdio para as cenas da relação entre os dois amantes, nos descontrai em absoluto e nos faz encantar. Este filme trata de casamento e fidelidade. Da relação entre o Sr Chow e a Sra Chan, uma relação baseada na reserva e no desejo reprimido e baseada também no suspense – será que eles dormiram juntos ou não? Levaram a sua relação até ao fim ou não? O que é que o Sr Chow sussurrou nos templos de Angkor na cena final?
Tudo aqui é lindo. Os vestidos da Sra Chan, os encontros dos amantes, os seus diálogos, quer enquanto caminham pelas ruas, quer enquanto estão à mesa, a comer. E a cena do fumo do cigarro que se perde no ar, não sem antes formar uma sombra que se confunde com a própria música. E pensar que provavelmente em 2000 adormeci no cinema a ver e a ouvir esta maravilha.

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