Guy Delisle é um canadiano que vive em França e se dedica à animação. É autor de algumas novelas gráficas, como Shenzhen - A Travelogue from China, e Pyongyang - A Journey in North Korea, que li, e Crónicas da Birmânia e Jerusalém, que espero ler em breve.
Está mais que visto, pelo nome das obras, que elas se focam nas viagens do seu autor.
No caso de Shenzhen e Pyongyang, Delisle foi para lá enviado a trabalho e da sua experiência de vida durante esse tempo dá-nos conta de forma humorada e descontraída. Sem perder o foco nas questões sociais e políticas que estas cidades colocam.
De Shenzhen, onde esteve 3 meses, e cujo livro data de 2000, conta-nos como foi viver esse tempo numa cidade em construção diária a meio caminho entre o paraíso Hong Kong e a tradicional Cantão. Em Shenzhen podia, assim, constatar o crescimento, ou aparecimento repentino, de mais um edifício enorme. Marca da modernidade. Mas, ao mesmo tempo, a sua estadia era enfadonha e a relação com os chineses ficava como o filme, lost in translation. Os chineses até se esforçavam, mas não iam além de um good morning, mesmo que fosse noite, ou um happy birthday, mesmo que fosse fim de semana.
Pyongyang, de 2003, foi a obra que se seguiu. Também a trabalho, Delisle foi enviado à capital da Coreia do Norte, onde, jura, não voltará. Aqui fica num hotel isolado só para estrangeiros, com dezenas de andares, mas em que apenas um se encontra em funcionamento. Aliás, os estrangeiros concentram-se todos nos mesmos lugares, não mais do que três zonas na cidade, e todos frequentam os mesmos locais, como as festas das organizações não governamentais. Quando saem fazem-no acompanhados de um guia e obrigatoriamente visitam determinados ex-libris, não forçosamente de muito interesse para um não norte-coreano. Na verdade, a questão é esta. Como é que eles seguem acreditando na cassete que lhes é impingida pelo governo? Nas ruas vêem-se inúmeros indivíduos a trabalhar, incluindo ao domingo, supostamente o dia de descanso semanal, sempre num "trabalho voluntário". Os estudantes estão sempre ávidos na preparação das marchas para os grandes eventos que acontecem no país. Existe um cinema que apenas abre de dois em dois anos, para acolher um festival internacional onde participam países amigos com a Síria, a Líbia, o Irão e o Iraque. E os guias contam que se sente espiões por todo o lado, prontos a destabilizar o sistema social norte-coreano.
Excelentes introduções para a realidade destas duas cidades asiáticas.
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