Este documentário de Marc Wiese, de 2012, é uma co-produção da Alemanha e da Coreia do Sul.
Mostra-nos a vida de um norte coreano nascido num campo de trabalho da Coreia do Norte que com 23 anos dele conseguiu fugir, sem que soubesse nada acerca da vida no seu exterior. Existe também um livro / biografia sobre o assunto.
Os seus pais casaram no campo, não porque tivessem sentido algo um pelo outro, mas tão simplesmente por determinação dos guardas. Tiveram dois filhos.
O rapaz biografado no filme, Shin Dong-Huyk de seu nome, vai-nos falando sobre a vida no campo, o sentimento que nutria pelos pais e irmão, o dever de obediência para com as regras no campo. Ao mesmo tempo, ouvimos também declarações de guardas que, obviamente, hoje não estão mais na Coreia do Norte.
Primeiras constatações: depois de levadas para um campo de trabalho as pessoas deixam de ser tratadas como seres humanos, passam a ser como animais. A comida servida é sempre a mesma, todos os dias, e em quantidades pouco generosas. Motivos para se ir preso (melhor dizendo, para se ir mais preso ainda, género metido numa solitária) e ser torturado são aos magotes, como o simples facto de enrolar um cigarro em papel de jornal e não se aperceber que este tinha uma foto do líder.
Há um certo dia em que o rapaz biografado vê e ouve a mãe e o irmão a falarem, ela a dar-lhe uma ração extra de comida que tinha guardada, combinando um plano de fuga. O rapaz delata-os e estes são executados, no cumprimento das regras do campo.
Anos mais tarde, passados já tempos de liberdade e num mundo dito normal, o rapaz diz não ter sentido nada a ver a mãe e o irmão serrem executados, porque não tinha a noção do que é ter uma família, dos sentimentos que lhe estão associados. O nascimento e toda uma juventude e entrada de adulto vividas no campo haviam-lhe negado isso. Diz hoje que não sabe sequer se eles tinham mesmo intenção de fugir, que o que sabe é que a culpa é da mãe, que tinha violado as regras do campo. E diz hoje, ainda, que aprendeu entretanto que é suposto chorar quando se perde a mãe, mas que até aí o que tinha aprendido é que era suposto relatar a desobediência, caso contrário é que agiria mal.
Também nas declarações dos guardas observamos uma ausência de culpa. Estavam a proteger o país e até ganhavam uma ração extra de comida e álcool.
Depois de ver parte da família executada e de ter sido torturado, conhece um homem no campo que lhe conta histórias sobre comida. Começa a pensar em fugir e com a sua ajuda consegue-o. Diz hoje que não era o desejo de liberdade que o levou a fugir, mas tão somente o desejo de comer um pedaço de galinha e arroz.
Vivendo agora na Coreia do Sul, vinca o contra-senso desta nova vida de suposta liberdade, comparando a sua vida actual à anterior no campo: agora está pior, porque a falta de dinheiro condiciona a vida das pessoas. Em conclusão, da Coreia do Norte sente falta da inocência e da falta de preocupações que tinha. Aí tinha um coração puro, era naive, não tinha de pensar em nada, nem no poder do dinheiro nem em resolver problemas pela falta dele.
Já tínhamos a "banalidade do mal". Poderemos agora designar isto como a banalidade do absurdo?
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