Até há relativamente pouco tempo pensava-se que o agora arquipélago do Japão era algo de vida recente, cerca de 4000 anos a.C. Todavia, estudos arqueológicos posteriores datam a vida no território até cerca de 35000 anos a.C.
O que havia então era uma península, daí que os habitantes se deslocassem facilmente desde o continente. Com o fim do período glaciar e correspondente subida das águas, por volta de 10000 a.C., deu-se a separação do continente e criação do arquipélago. Logo, os seus habitantes passaram a estar mais longe da influência continental e começaram a ganhar características próprias. Uma distinta cultura começou a ganhar forma. Nesse tempo, os ancestrais dos japoneses eram caçadores colectores itinerantes.
Podemos definir como primeiro período o Jomon, de 10000 a 300 a.C. Jomon significa "padrão de corda", aludindo à distinta cerâmica desse tempo. Existem hoje vestígios não só de cerâmica como de utensílios vários deste período. As gentes viviam em cavernas, depois em cabanas de palha. Mas sempre em deslocação. Começa a observar-se uma certa organização familiar, que não política, em volta de 4 ou 5 famílias. Assiste-se ao longo do tempo a uma gradual sedentarização dos povos, sobretudo junto ao litoral, e a pesca começa a ser fonte de vida.
Segue-se o período Yayoy, de 300 a.C. a 300 d.C. Yayoy é o nome de um importante campo arqueológico perto do Tóquio. O que define este período é a introdução de duas inovações: o arroz e os metais. A introdução do arroz é o primeiro grande momento da história do Japão. Existem duas teorias acerca da chegada da cultura do arroz. Uma primeira, hoje deixada de lado, defendia que teria havido uma invasão estrangeira que a impôs pela força. Hoje é pacífica a corrente de que o que houve foi uma influência continental natural que levou a um desenvolvimento autónomo indígena. E porquê a relevância da introdução do arroz? Porque este permitiu que os povos se sedentarizassem de vez num território e, principalmente, que começassem a acumular riqueza. Com isso deu-se o aparecimento de classes com base na organização do trabalho e na posse do arroz e o início de formas de organização social e política. Ao mesmo tempo, deu-se uma evolução tecnológica com a evolução no trabalho de metais. Estes eram utilizados no trabalho agrícola, mas não só. Também na prática de guerra, através do fabrico e uso de armas, e nos rituais religiosos, através da construção de sinos, por exemplo. Quanto à guerra, este período é também definidor da história do Japão, uma vez que ela seria uma constante ao longo de todos os tempos. De realçar que só uma comunidade organizada politicamente e ciente da sua identidade é capaz de fazer a guerra. Deste período Yayoy existem ainda evidências de sepulturas, mais um símbolo de estatuto que sugere a existência de uma estratificação social.
Começa a assistir-se a um constante conflito entre as comunidades. Estas vão ver famílias a organizarem-se em uji e aqui nascem as famílias tradicionais, os clãs. Os uji entram em contacto uns com os outros, fazendo alianças, e aqui o Japão vai ganhando alguma unidade. A Casa Imperial japonesa seria um destes uji que ganhou supremacia, quer económica quer militar.
A Casa Imperial japonesa é a construção de uma narrativa feita por um uji na sua ascensão. É uma espécie de mediação entre os mundos sobrenatural e real. Existia a crença na divindade da sagrada linhagem imperial do Japão. Esta casa vai dominar a região de Yamato.
E aqui surge, então, um novo período, o Yamato, entre 300 e 710. O seu nascimento está intimamente ligado ao culto de divindades locais (kami) dando a Yamato tanto funções sagradas como seculares. A Casa da Linhagem do Sol (casa imperial), por exemplo, tem uma legitimação não só material, mas também divina. Daí procurar a conciliação. É guerreira, mas também congregadora, de modo a tutelar todo o país através da protecção da deusa Amaterasu. A Casa da Linhagem do Sol reconhece legitimidade a outros uji para governarem localmente porque estes também reconhecem a sua legitimidade para governar superiormente. Há, assim, uma lógica de vassalagem e reconhecimento de legitimidades mútuas, uma característica que se manteria no Japão até quase aos nossos dias. Por outro lado, o poder da Casa da Linhagem do Sol é conseguido não só através da construção desta narrativa divina, mas também através da acumulação de riqueza e do contacto com reinos coreanos.
A organização social do estado de Yamato era composta pelos uji, os grandes clãs associados a grandes famílias cujo líder se afirma descendente de um kami, e os be, as comunidades agrícolas.
A partir do século VI começa a existir a necessidade de criar um estado poderoso ao estilo chinês, com o exercício do poder burocratizado através de uma administração, e o budismo vai ser o elemento que vai proporcionar este novo modelo. O reino coreano de Paekche, através do qual o budismo chegou ao Japão, vai enviar uma figura e um sutra budista e acrescenta que o budismo é uma vivência cultural importante para a unificação do território. Todavia, no Japão havia um domínio do shintoismo. Daí que o budismo venha a ser patrocinado discretamente pela casa Soga, seus adeptos, mas com a figura do príncipe Shotoku por trás. Este pega no budismo como grande matriz cultural do Japão e dá ao território um novo nome: terra do sol nascente. Há uma sinização do Japão, quer através do budismo quer da lógica confucionista de harmonização do homem no seio da sociedade e de respeito pela figura imperial. Mas também através da administração. Assim, em 645 aparece a Grande Reforma Taika, por intermédio do príncipe Naka, e em 702 o Código Taigo, por intermédio do príncipe Temmu, essencial para o crescimento do estado burocrático de Nara.
Estava pois, a entrar-se num novo período, o Nara, de 710 a 794. Nara, a nova capital foi modelada à imagem de Chang'an, então capital dos Tang, dinastia chinesa. A influência da China era evidente. E propositada. Era necessária uma administração burocratizada e centralizada, já não através da lógica de vassalagem e parentesco ou de invocações mitológicas shintoistas. Agora a lógica que deveria imperar era a de súbditos - trono imperial. Foi criada toda uma ética confucionista de obediência ao imperador e para isso foi criado um sistema educativo que formasse os funcionários nesse sentido. O sistema de exames era parecido com os chineses, mas havia uma diferença profunda. Na China o sistema de exames permitia uma certa mobilidade social, mas adaptado à realidade japonesa este iria servir para enquadrar os elementos das grandes famílias e o sistema de exames era lhes reservado.
Estas grandes famílias foram patrocinando a construção de templos budistas e colocavam lá os seus elementos. Foi, assim, desenvolvido um sistema de templos budistas e a atenção virou-se primeiramente para ritos para proteger o estado. No entanto, os templos passaram a acumular terras e, para além da importância económica, os monges ganharam influência política. Tal não passou a ser visto com bons olhos.
O período Heian, de 794 a 1192, é uma consequência do período Nara, da lógica de privatização da administração imperial pelas grandes famílias. Havia que libertar a Casa Imperial desta pressão dos templos budistas, da quantidade de privilégios atribuídos ao budismo, daí a criação de uma nova capital, Heian (hoje Quioto). Os templos ficariam fora da cidade. Deveria haver um espaço administrativo e político, dentro da cidade, e um espaço religioso, fora da cidade. As famílias da corte decidem, assim, reconfigurar a sua relação com o budismo e este deveria passar a ser menos secular e mais preocupado com o religioso e o metafísico. Enfim, uma vivência mais espiritual. É deste tempo a introdução de duas novas correntes do budismo, o shingon (ligado ao lotus sutra) e o tendai (ligado ao tantrismo). Este investimento em escolas budistas mais meditativas pretendia evitar os perigos de uma interferência na política. Os templos seriam mais abertos à sociedade, a elementos mais humildes.
Todavia, não sendo já patrocinados pelo poder político, os templos vão passar a adquirir terras e a competir entre si. Para a sua sobrevivência passam a ter exércitos privados.
As grandes famílias entram numa lógica de influências, com controlo da corte imperial. As suas propriedades vão ganhando isenções fiscais e até imunidade judicial. Isto porque elas governavam em seu próprio benefício. Os seus territórios, os shoen, passam a ser espaços independentes do poder central.
A família Fujiwara é a mais destacada deste tempo em que o país deixa de ser governado por uma administração central para passar a ser governado por uma corte. Através de políticas matrimoniais, casando as suas filhas com elementos da casa imperial, a família Fujiwara conseguia garantir que as mães dos imperadores fossem suas. Até os imperadores atingirem a maioridade havia um regente Fujiwara (sesho) e mesmo com imperador adulto eles continuavam regentes (kampaku).
No século X, todavia, começa a sentir-se um declínio na eficácia do poder do governo central. Dão-se rebeliões e cisões internas. Go-Sanjon, o primeiro imperador em 170 anos que não tinha mãe Fujiwara, tenta restaurar o poder imperial e começa por proceder ao exame da legalidade dos shoen. Compra uma guerra com os Fujiwara e acaba por inaugurar uma política que viria para ficar: a política de abdicar e manter a influência, uma vez que detinha o poder de designar o seu sucessor (política insen).
Não obstante, assiste-se a uma nova fase, a do Japão feudal, governado por feudos, e a emergência de vários poderes regionais. A burocracia estava na capital, e as famílias nas províncias. Famílias que se tornam casas militares que vão dar origem aos xogunatos, num processo lento de militarização. A casa imperial vai ficando cada vez mais dependente destas forças de segurança regionais. No século XII, após uma disputa entre duas facções da casa imperial, em que cada uma chama uma destas casas militares para os proteger, emergem os Taira e os Minamoto. A facção dos Taira vence e estes acabam por tomar o poder. Mas este vão transformar-se numa aristocracia civil de corte, imitando os Fujiwara e esquecendo as suas origens militares e a sua base de apoio. Nada mudam na administração, apenas se deixam absorver por ela. Na guerra Gempei, entre 1180 e 1185 os Taira e os Minamoto encontram-se novamente e desta vez são estes últimos a vencer.
Surge, então, uma nova época, em que os laços de vassalagem ganham destaque. Os guerreiros eram fiéis ao seu senhor porque sabiam que teriam a sua recompensa. A guerra passou a ser um modo de vida e as aristocracias regionais tornam-se as aristocracias de poder.
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