sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

China - a Dinastia Ming (1368-1644)


Os Ming sucederam a uma dinastia estrangeira, os Yuan, mongóis. Os últimos anos desta dinastia foram de caos social, político e militar.
É num ambiente de emergência de focos de rebelião, de que foram exemplo os Turbantes Vermelho, inspirados em teorias budistas, que surge Zhu Yuanzhang, de origem muito humilde. Junta-se aos revoltosos, tem ascensão muito rápida entre os Turbantes do Norte, em 1358 conquista Nanquim e torna-se líder incontestado e um dos mais fortes senhores em luta pela supremacia da China. Acaba por tornar-se o primeiro imperador da dinastia Ming, tomando o nome de Hongwu. A capital dos Yuan era Pequim, mas os Ming começaram por ter a sua capital em Nanquim.
Hongwu vai estabelecer um sistema autocrático altamente centralizado, extinguindo o cargo de primeiro ministro. Como órgãos temos o Grande Secretariado, com grande concentração de poder por parte do imperador e na sua directa dependência, seis ministérios, Censorado e cinco comissões militares. Ao nível da administração provincial existem 13 províncias e 2 áreas metropolitanas. 


Yongle, o terceiro imperador Ming (1402-1424), vai ter um papel de grande destaque não só entre a história Ming, mas também na história da China. Ele começou por usurpar o poder ao seu sobrinho, mas não quebra a linha hereditária dos Ming porque era um dos filhos do primeiro imperador. A sua base de poder era em Pequim, por isso vai transferir a capital para aqui. Como justificação havia a questão das fronteiras a norte e a consequente necessidade de defesa face a eventuais ameaças. A transferência da capital foi feita de forma faseada, seguindo um ambicioso projecto imperial. Houve um forte investimento na construção da Cidade Proibida e do Templo do Céu e a deslocação maciça de populações. Também deve ser atribuído a Yongle a reconstrução do Grande Canal, que havia sido construído pelos Sui entre 605 e 610 e que havia sido abandonado e deixado degradado pelos Yuan, e a reconstrução de outro grande símbolo, a Grande Muralha. Ainda, foi no reinado de Yongle que o almirante Zheng He foi enviado em missão tributária para toda a Ásia e até costa oriental africana. 


O primeiro imperador, Hongwu, quando ascende ao poder vai proibir as navegações dos chineses. Ele promovia sobretudo a agricultura, ainda que houvesse comércio marítimo legal, sempre realizado no âmbito das missões tributárias. Havia, igualmente, um comércio ilegal. Estas relações tributárias consistiam na troca de embaixadores no âmbito de relações diplomáticas em que os demais estados se reconhecem vassalos do imperador da China, reconhecendo a sua superioridade e aceitando as regras de comércio chinesas. Neste sistema os chineses ultramarinos, que haviam deixado o seu país de forma ilegal, tinham um papel essencial e de grande prestígio. 


Com Yongle vamos verificar um aumento do intervencionismo quer terrestre quer marítimo, este último através das expedições do já citado almirante Zheng He, naquele que é o culminar da supremacia chinesa na Ásia. Zheng He era um eunuco, de origem muçulmana, natural da província do Yunnan. O peso muçulmano nestas expedições é muito forte (para além de Zheng He havia ainda tradutores muçulmanos), tal se devendo à islamização da Ásia do Sueste e à sua importância no comércio internacional. As expedições de Zheng He foram sete, entre 1405 e 1433, esta última já no reinado de Xuande. Chegaram à costa oriental africana e terão passado por mais de 40 países. Os objectivos destas expedições eram a afirmação da legitimidade da nova dinastia Ming, mais ainda necessitando Yongle desta legitimação por ser um usurpador. E pretendia-se ainda um reforço na percepção da força e superioridade da China Ming. Na implementação deste sistema tributário pretendia atrair-se para a órbita chinesa vários estados e recolher-se tesouros e produtos exóticos. Mas estas expedições tinham um elevado custo. Por outro lado, preocupações com a defesa face aos mongóis e os elevados custos da transferência da capital para Pequim fizeram com que estas expedições fossem vistas como supérfluas e um desperdício de recursos, daí o seu fim.

Quanto à burocracia civil Ming, esta era preenchida por funcionários que haviam passado no sistema de exames. Este era a principal forma de recrutar gente para a administração do aparelho governativo. Os oficiais civis, mandarins, eram uma espécie de nobreza não com base no sangue, mas no estudo.
Um grupo que foi ganhando destaque ao longo da dinastia era o dos eunucos. Hongwu estabeleceu que estes permanecessem analfabetos e que o seu número não fosse além dos cem. Mas as suas medidas depressa foram abandonadas e os eunucos crescem em influencia. Eles não eram meros servos domésticos, uma vez que vamos vê-los envolvidos em uma série de outros aspectos, de que é exemplo o almirante Zheng He, enviado em missão tributária e diplomática. E também não eram um grupo de iletrados, tendo mesmo sido instituída uma escola no palácio imperial para eles. Ao longo de toda a dinastia os eunucos terão chegado a um milhão e conseguiram mesmo a proeza de, dada a sua proximidade, chegar a manipular imperadores. A castração era, pois, uma forma de ascenderem socialmente.  
A estrutura da sociedade dos Ming era muito rígida, pautada pelo imobilidade. As leis estabeleciam que se herdasse a profissão, assim, um filho de artesão, artesão seria. À actividade comercial foi dada relevo, sendo conferida uma certa liberdade aos mercadores. Foi dada grande importância à estabilidade dos preços e foram uniformizados para todo o território os pesos e medidas. A prata era a grande moeda de troca. Verificou-se uma grande prosperidade a nível económico com os Ming, bem como uma expansão da imprensa.  

Uma palavra para a entrada dos portugueses na China Ming. Vai ser em Malaca que ocorrem os primeiros contactos entre os chineses e portugueses, a partir de cerca de 1509. Em 1513 Jorge Alvares chega à China. Tendo em consideração que comércio legal era aquele que era efectuado no âmbito das missões tributárias, quatro anos mais tarde os portugueses decidem encetar contactos, enviando Tomé Pires como embaixador para tentar estabelecer relações oficiais com a China. No entanto, nesta primeira embaixada de 1518 vão ter lugar alguns exemplos dos conflitos que se iriam ver nas relações entre ambos ao longo dos tempos: a impaciência portuguesa face à burocracia chinesa e a falta de reciprocidade. Quando chegam a Cantão, os portugueses vão disparar canhões como forma de saudação, mas não conseguem mais do que incutir medo na população e indignação nas autoridade. Era evidente o choque cultural. A imagem dos portugueses era então negativa, gente de má índole, que perturba a ordem, come crianças e utiliza os seus órgãos para os mais variados fins.   

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