quarta-feira, 15 de junho de 2011

Teatro Noh

A amizade entre o Japão e Portugal já vem de longe, tem muitos séculos mesmo. Mas foi apenas há 150 que ela foi formalizada através da assinatura de um tratado entre os dois países. E para comemorar o feito, o Teatro D. Maria II apresentou na semana passada duas peças do teatro Noh, “Auto da Barca da Viagem” e “Sorin”, trazidas até nós pelo grupo Sakuramaki.



Graças a Literaturas Asiáticas fiquei a saber que o teatro Noh, a par do Kyogen e do Kabuki, são estilos de teatro característicos do Japão.
Para concentrar apenas no Noh, este vem desde cerca o século XIV e é uma espécie de ópera concentrada no cantar e dançar. Há um acompanhamento por parte de uma orquestra ou de um coro. O cenário é despojado e há um mínimo de ênfase nos movimentos do actor principal – sempre com uma máscara que vai mudando conforme a personagem que se quer representar – e nas suas palavras, mas o máximo de ênfase na imaginação da audiência. O palco para apresentação desta peça dramática é normalmente de madeira, para permitir ao actor ir deslizando e executando os seus gestos e movimentos como se fosse uma onda, em que o movimento transmite sentimentos.
Sentimentos e imaginação.
Bonito, não é? Apelativo, não é?
A professora avisou, repetiu, insistiu: que não percebia nada do Noh.
Eu tentei. Fui ver o Sorin e, pese embora as boas intenções para buscar um qualquer sentimento profundo de flor a desabrochar, fosse de cerejeira ou não, nenhuma imaginação me atingiu.
No entanto, não dei por mal empregue o tempo: fiquei curiosa em saber se todos os noh nos impedem de imaginar seja o que for.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Cinema Chinês

Quanto a filmes chineses, deixarei Wong Kar Wai e Johnnie To, os meus dois preferidos, para post autónomo.



Comecei por ver um filme de Wu Yonggang, “Shen nu” (The Goddess), de 1934. Penso que não poderia haver começo mais cativante para trazer expectativas quanto aos outros filmes que haveriam de se lhe seguir. É um filme mudo com uma actriz fabulosa de nome Ruan Lingyu que se matou cedo. Os tormentos que terá tido em vida com as suas relações amorosas passa-os também na fita. Representa uma mãe prostituta. Os homens que aparecem no filme são todos uns crápulas, com o seu chulo à cabeça, à excepção do professor da escola, que ficará encarregue da educação do seu filho.



E para algo completamente diferente seguiu-se Zhang Yimou, “Herói”, de 2002. Fez um enorme sucesso na China e um pouco por todo o mundo (os filmes deste realizador são um bocado conhecidos e premiados no ocidente, como “To Live”, de 1994, “O Segredo dos Punhais Voadores”, de 2004, e “A Maldição da Flor Dourada”, de 2006 – todos filmes ainda para eu ver). Herói é um filme de artes marciais, o wuxia. Mas daqueles que remetem para imagens do maravilhoso e do fantástico. Interessante achei a querela que aconteceu na China com a interpretação, do ponto de vista político, deste filme. Houve quem dissesse que se queria fazer passar uma esponja no autoritarismo (do imperador) para justificar um certo modelo politico contemporâneo, como se Zhang Yimou fosse o realizador oficial do regime (ele que também esteve presente na concepção da parte cénica dos JO de 2008).
Depois de 9 em cada 10 colegas já terem visto ou ouvido falar do filme, confesso que estava muito ansiosa e curiosa. Mas, apesar de ter gostado da cor e dos cenários, não achei que fosse assim tão brilhante.



O que eu achei lindo e soberbo, sim, foi o Red Cliff, de John Woo, de 2008. John Woo é o mesmo da Missão Impossível II e conseguiu com Red Cliff mais destaque e sucesso do que qualquer Missão Impossível. Foi um sucesso de público e de crítica. É a história verdadeira da batalha de Red Cliff que aconteceu no fim do domínio Han na China, por volta do século III a.C. O que mais me impressionou, para além dos cenários e paisagens fabulosas, foram as estratégias utilizadas por Zhuge Liang para vencer o reino do norte.
E impressionou-me ainda mais Takeshi Kaneshiro, o actor meio japonês meio taiwanês que representa aquela personagem histórica, a entrar directamente no meu top de homens asiáticos mais lindos.

Cinema Japonês

No cinema japonês vi pela primeira vez um filme de Yasujiro Ozu, “Tokyo no Yado” (Uma pousada em Tóquio), de 1935. É um filme mudo mas muito interessante, sobre a vida dura de um pai com dois filhos à procura de emprego.



Vi também pela primeira vez um filme de Akira Kurosawa, “Ikiru” (Viver), de 1952. É a história de um homem empregado numa repartição que leva uma vida desinteressante entre papelada até ao dia em que descobre que tem apenas uns quantos meses de vida. E resolve começar a viver. Por exemplo, a sair para beber e a dar-se com mulheres mais novas, tudo com a maior das ingenuidades e sem loucuras. Ou, outro exemplo, a preocupar-se com a comunidade e a dar finalmente a ordem que havia ignorado enquanto chefe da repartição para se construir um jardim infantil. É um filme essencial, aqui ou na China. Ops! Aqui ou no Japão.



Vi ainda um filme de Nagisa Oshima, “Seishun Zankoku Monogatari” (Contos Cruéis da Juventude), de 1960. Dele já tinha visto o “Império dos Sentidos”, o tal que já falei em post anterior que fez furor na nossa televisão nos anos oitenta. Este filme não tem erotismo, mas tem já uns beijos roubados e uns corpos nus que seriam um bocado afoitos para a época. É a história de uns adolescentes transviados, rebeldes, que querem aproveitar a vida e o sol, gostam dos seus corpos e que armam uns esquemas com um bocado de imaginação para sacar dinheiro aos cotas que se deixam enganar pelas supostas boas intenções das damas. Mas, é claro, as coisas não acabam bem para esta juventude do pós guerra.

O único filme dos que vi que não gostei grande coisa foi o de Kenji Mizoguchi, “Ugetsu Monogatari” (Contos da Lua Vaga), de 1953. É a história de uns fulanos que vão para a guerra (um deles está maluquinho por vir a ser samurai) e voltam como fantasmas. É um dos filmes japoneses mais aclamados, para ver que nem todas as coisas boas são do meu agrado.



Depois, por fim, um filme de Hideo Nakata, “Honogurai mizu no soko kara” (Águas Passadas”), de 2002. É também sobre fantasmas, mas moderno. Deste já gostei mais. Há também uma versão de Walter Salles passada no Canada. É a história de uma mãe divorciada que cria sozinha a filha, sempre com medo de que o pai lhe venha a ganhar a guarda. Muda de casa e, oh cúmulo dos azares, vai logo para uma que mete água porque a menina que tinha morrido afogada no reservatório de água do último andar não pára de chorar porque se sente abandonada. Parece que a água, no imaginário japonês, está ligada à morte e aos fantasmas. Vou ser desmancha prazeres e contar o fim: a alucinação é que esta mãe acaba por – para apaziguar a vida atormentada que passa a viver – escolher a menina fantasma em detrimento da sua própria filha. Impressionante. Muito bom.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Alguns filmes do Vietname e Camboja

Já conhecia uns filmes que adorei de um realizador vietnamita, de seu nome Anh Hung Tran.



São eles Cyclo (1995) e The Scent of Green Papaya (1993).
O primeiro é um bom retrato de um jovem condutor de bicicleta que transporta pessoas pelas ruas de Saigão mas que, para ganhar dinheiro, acaba por se envolver com criminosos. Não é um filme leve, mas como diria o outro, é espantoso!
O Odor da Papaia Verde é simplesmente lindíssimo, de uma sensibilidade tocante, nem era preciso o som do piano.



E, depois, há O Amante (1992), que não é de Anh Hung Tran nem de nenhum vietnamita (é de um realizador francês), mas é uma adaptação do livro de mesmo nome de Marguerite Duras, a francesa que viveu toda a sua infância e adolescência na Indochina. Este filme também é bom e não esquece de filmar os encontros dos amantes no bairro de Cholon (entre quatro paredes), que Duras conseguiu tornar mítico.
Não sei se gostei tanto destes filmes por os ter visto na sequência de uma viagem ao Vietname, com a vida acelerada das ruas e as cores e os cheiros dessa Ásia bem presentes. Mas já tinha lido O Amante e fizemos (eu e a mana) questão de ir até Cholon, a alguns quilómetros da antiga Saigão, hoje Ho Chi Minh City. É a maior confusão por lá, seja no mercado seja nas ruas, que são também elas um mercado interminável e constante. E, depois, é inesquecível – porque tudo faz parte – a pobreza imensa das casas de latão junto ao canal nojento. Pois é, nem todas as águas têm o encanto do Mekong, mas se não se quer levar assim a seco um murro no estômago pelo contacto directo com a realidade, talvez começar por ver estes filmes seja uma boa ideia (apesar de que dos citados, apenas Cyclo pode ser considerado algo violento; O Amante só chocará pela “libertinagem” e decadência de uma família que supostamente faria parte da classe dos colonizadores).
No entanto, o filme O Amante não terá sido filmado em Saigão, mas em Sadec, no delta do Mekong, onde Duras também viveu.
E há ainda outro filme de uma adaptação de uma obra de Duras: Un Barrage Contre le Pacifique (2008), do cambojano Rithy Panh, que eu ainda não vi.
Assim como do mesmo autor ainda tenho para ver – espero que bem antes do Natal – The Rice People (1994), Un Soir Aprés la Guerre (1998) e, quando o conseguir sacar, S-21, la Machine de Mort Khmere Rouge (2003), todos sobre a tragédia e o trauma criados pelo Khmer Rouge de Pol Pot que assolou o Camboja nos anos 70.



Sobre esta temática tive a oportunidade de ver o mais antigo e famoso Killing Fields (1984), dois jornalistas que cobrem as atrocidades daquele regime: o americano safa-se, o cambojano vai parar aos campos da morte.



E, voltando ao Vietname e às adaptações, fica a faltar falar do Americano Tranquilo (2002), talvez destes todos o filme que mais sucesso fez, baseado no livro de Graham Greene, um triângulo amoroso em Saigão, com muita traição, passado no começo da guerra do Vietname.

O Cinema

Mas o que eu gostei mesmo muito neste segundo semestre foi a cadeira de Cinema Asiático.
As constantes tiradas e qualificativos de “espantoso” do professor galvanizaram, ai isso é que galvanizaram.
Confesso que ao princípio fiquei um pouco desiludida ao saber que este cinema “asiático” se iria resumir a China (incluindo Hong Kong) e Japão. Nada de Índia nem do seu Bollywood.
Mas nem por um momento, nem antes nem depois, pensei que seria uma perda de tempo ter uma cadeira de cinema e, a partir de certa altura, assistir a um filme todas as 5.as feiras de manhã.
Não porque seja uma grande cinéfila, longe disso. Mas porque gosto de boas histórias, gosto de filmes não americanos (e também gosto destes), não me pelo por blockbusters (embora viesse a descobrir que também os chineses os têm, como Hero e Red Cliff – o Tigre e o Dragão já tinha visto) e, principalmente, sou curiosa, gosto de descobrir coisas, sejam filmes, sejam músicas, sejam países.
E ver o cinema de diferentes países é uma boa forma de tentar conhecê-los e entendê-los um pouco.
Resultado: de tanto sacar filmes destas paragens tenho programa para todas as 6as feiras e sábados à noite até ao fim do ano.