quinta-feira, 7 de julho de 2011

Comboio para o Paquistão



Khushwant Singh é um autor indiano nascido em 1915 (e ainda vivo) em terras do Punjab hoje paquistanês.
O seu livro “Comboio para o Paquistão”, escrito em 1956, fala de forma brilhante e evocativa, bela mas duramente, dos momentos que se seguiram à partilha da Índia britânica em 1947, cuja forma atabalhoada geradora de incerteza conduziu não só a migrações de milhões como à morte de um sem número de pessoas.
Singh escreve logo na primeira página “Os muçulmanos diziam que tinham sido os hindus a planear e a começar a matança. Segundo os hindus, a culpa era dos muçulmanos. A verdade é que ambos os lados mataram”. A estes há ainda que acrescentar os sikhs que, tal como os outros, provocaram e foram provocados.
A cidade de Mano Majra, fronteiriça entre a Índia e o Paquistão, é palco da história, por onde passam os malditos comboios, por vezes com vivos, outras vezes com cadáveres, sempre a abarrotar.
Outro trecho “Quando vinham, estavam apinhados de refugiados sikhs e hindus vindos do Paquistão, ou muçulmanos vindos da Índia. As pessoas vinham empoleiradas nos tejadilhos com as pernas balançando na borda, ou em armações de cama apertadas entre os vagões. Algumas vinham precariamente cavalgando os amortecedores entre as carruagens.”
Uma outra passagem lindíssima escrita por este autor é a dedicada à monção, com ela “o ritmo da vida e da morte aumenta”, a de inverno “é como um aguaceiro frio numa manhã de geada, que deixa as pessoas frias e estremecendo”; a de verão “é sempre precedida por vários meses em que a terra vai ganhando sede, pelo que, quando as águas vêm finalmente, são bebidas sofregamente e com prazer”.
No meio de tanta tragédia, a leitura deste livro consegue-nos encantar e, sobretudo com o seu surpreendente e corajoso final, fazer-nos acreditar e ter esperança nos homens, ou pelo menos em alguns.

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