sábado, 8 de julho de 2017

A reunificação chinesa, a época dourada e a dinastia estrangeira - os Sui, Tang, Song e Yuan

No ano de 220 a dinastia Han caiu para uma rebelião de camponeses, evento recorrente na história chinesa. Entrou-se, novamente, numa época de divisão na China. Como governo foram-se sucedendo o Período dos três Reinos, os Jin Ocidentais e Orientais e as dinastias Zhou do Norte e do Sul.

Assistiu-se à emergência de grandes militares e estrategistas como Cao Cao e Zhuge Liang. O aclamado filme "A Batalha de Red Cliff" retrata com maestria este período.


A reunificação da China veio em 581 com a instituição da dinastia Sui (581 - 618), com a união do norte e do sul. Desta época Sui data um projecto enorme da história mundial: a construção do Grande CanalA China possui grandes rios (embora não tão marcantes como na Índia, por exemplo), como o rio Amarelo e o rio Yangtze que correm de oeste para este, desaguando no mar. Entre 605 e 610 milhões de trabalhadores chineses dedicaram-se à empreitada de, aproveitando antigos canais que careciam de restauro e também alguns rios e lagos naturais, construírem um braço navegável que corresse de norte para sul e estivesse conectado aos grandes rios. Esta criação milenar do Homem possuía originalmente 2000 km de comprimento e uma altura suficiente para o transporte de mercadorias que desenvolveria exponencialmente a economia e cultura chinesas da época.

Em 618 nova rebelião de camponeses viria a resultar na instituição da dinastia Tang (618 - 907). Os Tang, a mais cosmopolita de todas as dinastias chinesas, estenderam o território chinês como nenhuma dinastia o havia feito até aí. Criaram uma sociedade estável e em paz, o comércio e o transporte alcançaram um alto nível de desenvolvimento, as cidades eram vibrantes. Chang'an era a sua capital e, nesta época, uma das maiores do mundo. Uma metrópole, mesmo, planeada de forma simétrica e modelo para muitas outras cidades que a imitariam (a Pequim dos Ming teve-a como modelo), onde acorriam letrados, mercadores e artesãos para estudar, comerciar e trabalhar. Aqui encontrávamos inúmeras lojas, diz-se que mais de 200 tipos de lojas, com todo o género de produtos à venda, incluindo os mais preciosos e raros. A prosperidade era imensa. 


O centro cultural da China estava, então, em Chang'an, com os maiores calígrafos, pintores e poetas. Li Bai e Du Fu, os maiores poetas da China, viveram nesta época e contribuíram para que a poesia chinesa alcançasse padrões enormes, influenciando os vizinhos Japão e Coreia. Na corte Tang quase qualquer um escrevia poesia relatando as suas actividades diárias e expressando os seus sentimentos. Nesta época esperava-se que todos os chineses educados pudessem ler, escrever e admirar poesia. 


Também a escultura, nomeadamente em grutas, atingiu o seu pináculo nesta época, de que são testemunho as estátuas de Buda e murais sagrados sobretudo nas três grutas de Yungang, em Datong, de Longmen, em Luoyang, e Mogao em Dunhuang.

As diversas rotas da seda cresceram como nunca e a interconexão e convívio de várias religiões era uma marca evidente, embora a corte Sui e Tang tenham adoptado o budismo. Considerada a época dourada do budismo na China, o budismo era central em diversos aspectos da vida chinesa. Assistiu-se ao desenvolvimento de várias escolas do budismo, com o budismo Chan como o mais popular (no Japão e no ocidente é conhecido como budismo zen). Este desenvolvimento do budismo trouxe consequências económicas e artísticas muito positivas. O mercado de peregrinações era vibrante e o comércio de objectos de arte religiosos intenso. Em Dunhuang, onde a Rota da Seda começava, havia centenas de mosteiros budistas. Xuanzang empreendeu uma peregrinação à Índia em busca de escrituras budistas para as trazer para a China. O monge iniciou a sua viagem em 627, atravessando desertos e montanhas, tendo permanecido na Índia cerca de 15 anos a estudar os documentos budistas. Escreveu a sua aventura numa obra traduzida em diversas línguas, o Records on the Western Regions of the Great Tang Empire. A sua peregrinação inspirou o romance clássico chinês "Viagem ao Ocidente" e esta e outras peregrinações tiveram ainda como efeito o estreitar das relações entre China e Índia. 

Outra marca distinta da dinastia Tang foi a de conferir algum estatuto às mulheres da alta sociedade. Como prova maior, eis o facto de Wu Zetian ter sido a primeira e única monarca na história da China, feito alcançado em 690.


Os Tang introduziram ainda um código penal avançado que perduraria séculos e, mais importante,  desenvolveram o sistema de exames civis imperiais iniciado pelos Sui. Esta era a forma de seccionar homens talentosos para as posições oficiais no governo imperial. Incontáveis candidatos testavam os seus talentos todos os anos, com ênfase no conhecimento dos clássicos confucionistas, mas apenas uns poucos passavam. Esta era uma forma de alcançar uma posição na orgânica do estado e, sobretudo, de ascensão social. O sistema de exames civis é mais uma marca distinta da civilização chinesa, o qual perdurou até aos últimos anos da última dinastia Qing, bem mais de mil anos de actividade, portanto, quando foi abolido com críticas por ser então um método demasiado rígido que não permitia que a China adotasse métodos científicos modernos. 

A queda dos Tang acabou por acontecer pela ausência de autoridade central. O poder político e militar não era o forte dos Tang, mas a sociedade e cultura que criaram continuava a florescer.

Após um período de cerca de 50 anos em que se assistiu ao governo por parte de diversas curtas dinastias e reinos (5 dinastias e 10 reinos), os Song impuseram-se, ainda que sob constante ameaça de grupos étnicos minoritários como os Liao e os Jin. Tal como os Tang, não eram tão fortes militarmente e por isso mais tarde continuaram a sofrer ataques das tribos nómadas, os "bárbaros do norte", como os Khitan e os Jurchen, até serem arredados do poder pelos mongóis.

A dinastia Song (960 - 1279), com capital em Kaifeng e Hangzhou, abraçou o ideal confucionista de um estado burocrático centralizado dirigido pelo imperador sob os conselhos dos burocratas civis versados nos clássicos confucionistas. 


Com os Song a produtividade agrícola aumentou exponencialmente graças ao ganho de mais terra cultivada à medida que as pessoas desciam para sul e iam ocupando novas terras e às novas técnicas testadas, como a da dupla cultura do arroz, permitindo duas colheitas por ano, e às novas culturas, como a do chá, cana de açúcar, bambu e algodão. Com isso a corte Song viu os seus cofres crescerem com a cobrança de mais taxas. A indústria do ferro também alcançou um grande desenvolvimento. Produtos como a seda, lacados e porcelana atingiram elevados padrões de qualidade.

O comércio prosperava, assim como a ciência e tecnologia. Quatro grandes invenções tiveram lugar durante a época da dinastia Song: a técnica de fazer papel, a impressão, o compasso e a pólvora. Por esta altura começou a circular o primeiro dinheiro em papel, a indústria de impressão de livros teve um boom incrível com tudo o que de enorme representa a circulação do conhecimento impresso, o compasso e correspondente assistência à navegação levou à prosperidade do comércio marítimo e a pólvora à proliferarão de armas de fogo e da indústria. 


Em termos culturais, a pintura nos Song atingiu níveis artísticos elevados. 
Como curiosidade, a moda dos pés enfaixados terá começado a tornar-se popular nos tempos dos Song, sendo sinal de estatuto social e ligada à ideia de que pés pequenos seriam mais atraentes.

Mas os Song continuavam a ser ameaçados a norte. Tribos mongóis que haviam sido unidas por Temujin, mais conhecido por Genghis Khan, e que sob o seu comando estenderam o seu domínio até ao Danúbio na Europa, haveriam de conquistar a China e fundar a sua dinastia. 

Os Yuan (1279 - 1368) constituíram uma dinastia fundada por Kublai Khan, neto de Genghis Khan, e viriam a unificar a China como uma só nação novamente. A dinastia mongol estabeleceu a sua capital em Pequim, então conhecida como Dadu ou Hanbali, a cidade do Khan. Os mongóis lançaram mão da empreitada de construção de Dadu, incluindo a cidade exterior, a cidade imperial e a cidade palaciana, e fizeram dela uma metrópole.

Kublai Khan reformou o sistema administrativo, tornando mais efectiva a administração central, e com ele começou, por exemplo, a administração central do governo de Taiwan. A China era então um país multi étnico. Os Yuan estabeleciam contactos com diversos países da Ásia, da Europa e da África. Em 1271 chegou à China o mais famoso estrangeiro, Marco Polo de seu nome. Tornou-se um favorito de Kublai e por 24 anos ali ficou. Descreveu um oriente fabuloso, dando a conhecer costumes, eventos históricos, crenças, cidades, produtos e comércios em detalhe, fazendo despertar o interesse dos ocidentais pela civilização chinesa, tendo influenciado uma série de navegadores e aventureiros que lhe seguiriam as pisadas por terras do oriente.


A dinastia Yuan, governo estrangeiro que, no entanto, defendia ideias do neoconfucionismo, apesar de discriminar os letrados, fez com que a população chinesa sofresse às suas mãos mongóis e a economia acabou por ter um retrocesso, nomeadamente com a destruição da indústria do ferro. 

Os Yuan lançaram várias expedições navais de conquista do Japão, sem sucesso, todavia.
O maior contributo da dinastia mongol terá sido o de estender o território como nunca até aí, muito por força das políticas de alianças com uigures, tibetanos e outros povos que estavam para além daquilo que se conhecia como "China propriamente dita", incorporando estas pessoas e seus territórios no seu estado.

Em 1368 uma nova dinastia etnicamente chinesa acabou por emergir na China, os Ming.

Sem comentários:

Enviar um comentário