sábado, 8 de julho de 2017

Dos primórdios da China até à Unificação Feudal sob os Qin e os Han

Não é certa a datação dos primeiros humanos no território que hoje conhecemos como China.
Certo é que essa é uma longa história e, acreditam alguns, pode ser traçada ao Paleolítico. Estes crêem que as raízes da China primitiva estejam na província de Yunnan, cerca de 1 700 000 anos atrás, onde o mais antigo ser humano foi encontrado, o Homem Yuanmou. Mais antigo até do que o Homem Peking, figura do Neolítico que até há pouco era a mais remota reconhecida pelos historiadores. Nesta época, 10000 ou 8000 anos a.C., os homens dedicavam-se à agricultura e já existia a domesticação de animais, sobretudo na zona do vale dos rios Amarelo e Yangtze. 
Mas este é um passado muito, muito distante.

Ao contrário dos japoneses, os chineses são mais pragmáticos e não costumam atribuir a criação do seu país a mitos. No entanto, e ainda que não parte da história oficiosa, alguns mitos existem, como o da lenda de Pangu. Segundo este, a criação do homem na China antiga pode ser atribuída ao gigante Pangu que, descendendo da Terra e do Céu, após a sua morte viu os seus olhos transformarem-se no sol e na lua, os seus quatro membros em montanhas, sangue, rios e lagos e mares, os seus tendões em campos, as suas artérias em estradas e caminhos, os seus cabelos em estrelas, a sua pele em flores, relva e florestas, os seus dentes em ossos e o seu suor em orvalho.

A primeira dinastia chinesa é a Xia, instituída cerca de 2070 a.C. Esta época marca uma passagem da Idade da Pedra para a Idade do Bronze e daqui datam já vestígios de vasos de cozinhar em bronze.

Da dinastia Shang, instituída cerca de 1600 a.C., tribo antiga nómada com raízes no baixo Rio Amarelo, existe mais informação e vestígios, nomeadamente artefactos com inscrições em ossos, carapaças de tartaruga e louça em bronze. 

Aos Shang sucedeu um reino vassalo, os Zhou, que foi crescendo em poder e aliado a outras tribos e pequenos estados acabou por fundar a sua dinastia em 1046 a.C. Os Zhou valorizavam já a agricultura e reconheciam mérito àqueles que possuíam talento. 


Xia, Shang, Zhou, três dinastias com nomes que talvez pouco dirão ao comum dos mortais. 
Mas se acrescentarmos o nome de Confúcio, talvez este passado distante possa ser mais próximo e reconhecível. Os Zhou podem ser divididos em Zhou Ocidentais (com capital em Hao, hoje Xi'an) e Zhou Orientais (com capital em Luoyang), este último com dois períodos: o período da Primavera e Outono, de 770 a 476 a.C., e o período dos Estados Guerreiros, de 475 a 221 a.C.
É no período da Primavera e Outono que encontramos Confúcio (551-479 a.C.). Nome fundamental da cultura chinesa, os seus ensinamentos e ideologia deixaram marca até aos dias de hoje. Defendia a ideia da benevolência por parte dos governantes para com o seu povo e a ideia de que o poder político deveria ser baseado na virtude e não na força, ligado ao conceito de "mandato do céu" (o imperador governaria enquanto seguisse aqueles preceitos). As pessoas deveriam ser governadas pela moralidade e não pela tirania. Educador, defendia que todos, independentemente do seu estatuto social, deveriam obter educação e não apenas a aristocracia. Estabeleceu escolas privadas, acabando com o monopólio do estado no domínio da educação. 

Este período da história chinesa foi vibrante em termos culturais e filosóficos. A par de Confúcio encontramos outros grandes pensadores como Laozi (escreveu o Tao Te Ching), Zhuangzi, Mêncio, Xunzi, Mozi e Hanfeizi. Inúmeras escolas de filosofia foram criadas, representando os taoistas, confucionistas, moistas e legalistas, tendo ficado conhecidas como as "100 Escolas do Pensamento". 
A cultura chinesa florescia, a par do que sucedia no antigo Egipto e nas civilizações indianas. Na Grécia apareciam as cidade-estado. Relativamente ao período da Primavera e Outono, a diferença era que nos estados da China a política não estava tão desenvolvida como na Grécia Antiga e o poder monárquico ainda imperava, ao contrário da ideia grega de governo pelo povo.

Este era um tempo de guerras entre estados, com inúmeros pequenos estados vassalos a rivalizarem entre si, anexando-se uns aos outros em busca da hegemonia. A "Arte da Guerra", o mais antigo tratado de ciência militar do mundo, data desta época. Escrito por Sun Tzu, estrategista durante o período da Primavera e Outono, estas constantes guerras entre estados levaram-no a pensar sobre a estratégia militar. Assente nas ideias de disciplina e treino das tropas, dá-nos a sua visão da guerra, revelando a importância de conhecermo-nos a nós próprios e ao nosso inimigo, usando a guerra apenas como último recurso, uma vez que era um enorme fardo para as pessoas. Os seus "mandamentos" são utilizados ainda hoje em diferentes domínios que não o do contexto da guerra.
Até que as guerras e mais guerras acabaram por resultar em sete estados maiores donde nesta sociedade feudal dividida veio a impor-se o reino Qin com o seu imperador Qinshihuang. Em 221 a.C. este unifica a China Antiga sob um único governo e funda a dinastia Qin.

Os Qin foram a primeira dinastia feudal a governar a China. Partiram da ideia da China como um país multi-étnico com uma monarquia centralizada e autocrática. Esta época Qin, a par da época da dinastia Han (202 a.C. a 220) que lhe sucedeu, viu serem criadas diversas instituições que perduraram por tempos. Os Qin tomaram reformas no sentido de consolidar o seu poder. Criaram o cargo de primeiro-ministro que presidia ao governo, outro cargo para a burocracia e outro cargo para o comando do exército. Todos estes elementos eram escolhidos e removidos pelo imperador. O país foi dividido em prefeituras, igualmente com elementos escolhidos por si. Com isso o imperador conseguia controlar todo o estado. Fixou ainda medidas de uniformização do peso, volume e comprimento, no sentido de desenvolver a economia, e emitiu uma moeda igualmente uniforme, procurando ainda unificar os caracteres. Com excepção dos livros de medicina e agricultura, mandou queimar todos os livros para reforçar a ideologia do regime no controlo do povo, perseguindo os oponentes (incluindo os seguidores de Confúcio).

Foi com os Qin que se iniciou a construção da Grande Muralha da China, tentativa de minimizar as invasões dos nómadas do Norte, ligando os muros defensivos que haviam sido construídos pelos vários estados. O território chinês tinha então 20 milhões de habitantes e ia da Grande Muralha a norte ao Mar do Sul da China a sul, e do Pacífico a oriente às montanhas de Longxi a ocidente. 


Um outro símbolo da China data desta época: o Exército de Terracota, mausoléu do imperador Qinshishuang, perto de Xi'an, com as suas famosas figuras de guerreiros e cavalos, as quais foram descobertas apenas em 1974.

A dinastia Han (206 a.C. - 220) pode ser dividida em dois períodos: os Han Ocidental, instituídos em 202 a.C., com Chang'an (Xi'an) como capital, e (depois de uma brevíssima queda para a instituição da dinastia Xin no ano 9, a qual durou apenas 16 anos) os Han Oriental, restauração dos Han com mudança da capital para Luoyang.

Os 400 anos de governo desta dinastia Han deixaram marcas e tiveram uma profunda influência nos governos que se seguiram. Desde logo o nome da nacionalidade chinesa, Han, a maioria étnica entre os chineses. Mas também nos caracteres, na linguagem, na cultura. Sima Qian é um nome maior da cultura chinesa com os seus registos históricos, datados de 145 a.C., o primeiro livro histórico biográfico de fundo na China, abordando vários assuntos como a política, economia, cultura e militar. A produção cresceu, a economia prosperou, a tecnologia e a cultura floresceram, viram-se avanços enormes na medicina e na astronomia. E a invenção do papel teve como consequência um salto enorme para todo o mundo. Nesta época a Rota da Seda ligava a China com o ocidente e a cultura chinesa deu-se a conhecer ao mundo e começou a encantar. A China estava então aberta ao contacto o outro. 

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