quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Primeiras fontes portuguesas sobre a Ásia

Os portugueses tiveram um papel pioneiro, de abertura, no encontro de culturas Europa / Ásia, o qual se estabeleceu a partir do século XVI. Portugal foi o primeiro país da Europa a alargar as suas fronteiras para além deste continente e, daí, a estabelecer relações concretas com os povos de todos os continentes.
A experiência cultural dos portugueses começa primeiro na Índia, mas alarga-se cedo na medida em que nos conseguimos espalhar rapidamente por todo o continente, atingindo pois a expansão portuguesa uma profunda dispersão espacial. Esta expansão e sua diáspora era ainda caracterizada por uma pluralidade cultural, através da miscigenação, e por comércio feito em rede, sobretudo assente em parcerias ao invés de conflitos. 
O conhecimento da Ásia antes dos portugueses descobrirem a Rota do Cabo e, logo, antes do grande crescimento do comércio marítimo, era um conhecimento genérico e imperfeito que se foi aperfeiçoando com os portugueses ao longo do tempo. 
Podemos definir três momentos:
Um primeiro com a chegada e instalação dos portugueses, em que a informação era orientada pelos interesses da Coroa e o conhecimento era fragmentado, muitas das vezes sem se saber se correspondia à realidade ou não. Deste é exemplo o Roteiro da Viagem de Vasco da Gama.


Num segundo momento evolui-se para um conhecimento mais aprofundado e detalhado e surgem as primeiras visões globais sobre a Ásia. Aparecem, então, verdadeiras enciclopédias com elementos mercantis, antropológicos, religiosos e linguisticos. Destes são exemplos a Suma Oriental, de Tomé Pires, e o Livro das Coisas da Índia, de Duarte Barbosa, ambos datados da primeira metade da segunda década de quinhentos.


A partir daí a produção textual cresce a um ritmo intenso, quer pela imensidão das matérias a abordar, quer pela multiplicação dos sujeitos que a ela se dedicam, como sejam, capitães, feitores, missionários, mercadores e aventureiros. O conhecimento assume, então, um carácter pragmático, com uma clara intenção didáctica, um saber para fazer, ou seja, para ser aplicado nas actividades marítimas e mercantis ou nas tentativas de aculturação e missionação. Em resumo, uma cultura prática e utilitária. Esta explosão informativa trouxe uma maior especialização e divulgação do conhecimento. Exemplos: as Décadas da Ásia, de João de Barros e depois Diogo do Couto, Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, de Fernão Lopes de Castanheda, ou as Lendas, de Gaspar Correia - todos estes eram historiadores. Temos ainda exemplos de obras de humanistas, como Jerónimo Osório com o seu De Gloria, de médicos, como Garcia de Orta e os seus Colóquios, e de missionários, em especial, os jesuítas. 


Mas o texto mais conhecido é a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, também jesuíta, mas sobretudo um aventureiro que partiu para a Ásia em busca de riqueza. Da sua obra restam dúvidas sobre se a realidade era tal como foi relatada. O "Fernão Mentes? Minto" tornou-se célebre e da Peregrinação se disse que "ora é romance verdadeiro, ora é verdadeiro romance". FMP fala da China litoral, da qual teve experiência directa, e de uma China interior, pelo que lera e ouvira dizer. 
Da China disse-nos que era um "processo quase infinito falar dela". E é. Até hoje.

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